4ª Agiria com maior eficácia aquele que, tendo a força
magnética, acreditasse na intervenção dos Espíritos? "Faria coisas que
consideraríeis milagre." Pela pergunta de Kardec fica novamente explícito quem
é o detentor do poder magnético, assim como se sobressai a potenciação que
surge com a interferência sabida e consentida dos Espíritos. A única coisa que não
dá para ser inserida nesse contexto é a colocação do senhor Levenhagen, quando
coloca: “Ora, se são os Espíritos desencarnados que dirigem os fluidos e dão aos
mesmos as qualidades necessárias para aliviar, ou mesmo curar, determinada enfermidade,
perguntamos: qual a necessidade da movimentação de mãos na aplicação do passe?”
É de se questionar: senhor Levenhagen, será que o senhor acredita mesmo no que
acaba de afirmar em sua pergunta? Será que o senhor receberia passe de uma
pessoa qualquer, apenas por ela fazer imposição de mãos e não saber nada de
magnetismo? Será que o senhor está mesmo em condições de comparar o que os seus
colegas realizam com base na sua leitura da obra de Allan Kardec? O senhor sabia
que, como magnetizador, o senhor Allan Kardec movimentava as mãos? Pois veja
só: no mesmo capítulo de onde o senhor extraiu o trecho acima, no item 175 (O
Livro dos Médiuns, item Médiuns curadores), Allan Kardec anotou o que se segue:
“...Diremos apenas que este gênero de mediunidade consiste, principalmente, no
dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo
por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que
isso mais não é do que magnetismo. Evidentemente, o fluido magnético desempenha
aí importante papel; porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem
dificuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetização ordinária é um
verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; no caso que apreciamos, as
coisas se passam de modo inteiramente diverso. Todos os magnetizadores são mais
ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo
que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem
jamais terem ouvido falar de magnetismo...”. (grifei)
Como deve ser observado, mesmo em relação aos médiuns
curadores ― que são diferentes dos passistas ― o senhor Allan Kardec aponta
três opções de técnicas de cura: o toque ― este, inclusive, é, de maneira
equivocada, totalmente descartado pela grande maioria dos espíritas ―, o olhar
ou um gesto - isso mesmo, para desespero de quem quer apresentar o seu ponto de
vista acima da base kardequiana, Kardec fala em gesto como técnica de cura.
Mais adiante, conforme grifei, Kardec define o processo
magnético, como sendo um verdadeiro tratamento, seguido, regular e metódico, o
que, por si só, confere a necessidade do magnetizador ter conhecimento de causa
e não apenas se limitar a ser dirigido.
Ao final do trecho, ele propõe que a aptidão para curar mais
efetivamente depende da “condução conveniente” do magnetizador. Pergunto: o que
se entenderia por conduzir-se convenientemente, em se falando de magnetizador?
Seria apenas e tão somente se ficar com as mãos estendidas, sem qualquer gesto?
Creio que é algo muito mais rico e coerente com a postura de uma ciência, como
sói acontecer com o Magnetismo.
Ao contrário dessas conclusões, eis o que o senhor Levenhagen
preferiu sintetizar: “Nós, como encarnados, não temos a Ciência de manipulação dos
fluidos, assim como muitos de nós não possuímos a competência necessária para trabalharmos
com substâncias químicas com a devida cautela”. Não quero ser grosseiro, mas
esta conclusão do senhor Levenhagen é absurda. Já pensou se tudo aquilo que o ser
humano não dominasse ele simplesmente não buscasse realizar? Será que, como
civilização, já teríamos saído da idade da pedra? Sinto muito dizer, mas a
postura sugerida pelo nosso confrade é de improdutiva acomodação. Se alguém não
tem conhecimento da manipulação dos fluidos e se esse alguém quer trabalhar com
esse elemento, o que ele deve fazer é estudar o mundo dos fluidos, pesquisar o magnetismo,
treinar a manipulação, experimentar enfim. Não acredito que os Espíritos nos
queiram como marionetes; ao contrário, eles estão precisando de seres dispostos
a servir, com competência, conhecimento, estudo, interesse e empenho. Precisamos,
sim, acreditar nos Espíritos, mas eles também precisam acreditar em nós. E como
eles acreditarão se nossa postura for a da acomodação pura e simples? Num ponto
a seguir, o senhor Levenhagen escreve o seguinte: “Muitos podem replicar que
são os “guias” que os intuem para direcionar as mãos para determinada parte do
corpo daquele que está recebendo os passes. Mas esta afirmação não faz sentido,
pois os Espíritos responsáveis pelos trabalhos de passes direcionam e manipulam
livremente os fluidos, independente se as mãos do encarnado estão ou não
direcionadas para este ou aquele órgão”. Na verdade, o posicionamento das mãos,
bem como seus movimentos, não devem ser frutos de direcionamento dos Espíritos
apenas, mas uma perfeita interação magnética do passista com a influência dos
Espíritos que auxiliam na operação. Mas, ao contrário do que afirma o artigo do
senhor Levenhagen, os Espíritos que operam nos passes não o fazem livremente e
sim responsavelmente, com conhecimento de causa, e, mesmo que ele não goste
disso, o posicionamento das mãos do passista interfere sim no processo.
Lembremos o seguinte: sendo os fluidos magnéticos positivamente
humanos e as mãos os pólos emissores dos fluidos, a depender de como e onde
estejam “estacionadas” poderão gerar campos magnéticos de diversos padrões,
alguns dos quais de difícil manipulação por parte dos Espíritos.
Continuando com seu artigo, ele buscou a palavra do Espírito
André Luiz para referendar o que estava expressando. No livro “Missionários da
Luz”, capítulo19, está dito que não basta somente a boa-vontade para os
técnicos responsáveis pela manipulação dos fluidos, mas que precisam deter
“qualidades de ordem superior e conhecimentos especializados”. Isto é uma verdade
verdadeira. Mas tanto é verdade para os Espíritos do além como para os
encarnados. Só que fazendo a supressão dos movimentos que o autor do artigo
sugere, se está condenando o passista a nunca adquirir os conhecimentos especializados
que só a prática e o estudo conjuntos possibilitam. Ou será que só se ensina
magnetismo no mundo espiritual? Ou será que os Espíritos do outro lado
aprenderam isso de forma automática quando lá chegaram? Ou será que os espíritas
são inaptos a assimilarem esses conhecimentos e aprimorarem, com segurança,
suas práticas, enquanto encarnados? Interessante é que, em determinados
momentos, parece que o senhor Levenhagen teve a mesma percepção que eu, mas,
objetivando justificar seu ponto de vista, sempre terminou levando a análise para
o ponto contrário. Senão, vejamos isso: “Acreditamos que uma das causas deste
bailar de mãos dos médiuns passistas reside em uma leitura rápida e superficial
das obras de André Luiz, trazendo para a prática cotidiana das casas espíritas
técnicas com as quais não sabemos lidar, em vista de não possuirmos
“conhecimentos especializados” para agirmos de forma direta”. Eu creio que
muitos movimentos de passes são destituídos de estudos, tendo surgido de
diversas fontes e formas, muitas delas sem qualquer explicação razoável. Mas
não dá para o senhor Levenhagen deduzir que uma das causas da movimentação das
mãos surgiu de leituras rápidas e superficiais da obra de André Luiz, até
porque, seguramente, ele não ensina nada disso em suas obras, apesar de falar
de muitas e variadas técnicas de passes magnéticos que são aplicados no mundo
espiritual, à feição dos magnetizadores encarnados. Se o senhor Levenhagen não
sabe lidar com técnicas que pedem conhecimentos especializados ou isto o inibe
a estudá-las, conhecê-las e praticá-las, não lhe cabe o direito de ensinar que
só se deve fazer imposição de mãos.
Oh! Como lamento que artigos como esse ganhem vulto junto
àqueles que dizem defender o estudo espírita, pois nada mais fazem do que gerar
acomodações improdutivas e crendice discordante do que ensina o senhor Allan
Kardec e os Espíritos da Codificação.
No mesmo artigo, um pouco mais adiante, o senhor Levenhagen
acrescenta: “Tendo em vista o que acabamos de desenvolver, faz-se imprescindível
que os passes, como técnicas, sejam substituídos pela simples imposição de mãos,
visto que os movimentos “coordenados” dos braços e mãos ferem o bom-senso e a
lógica, fundamentais para que haja coerência doutrinária”. Isto é o que é mais
lamentável. O senhor Levenhagen fere, distorce e acomoda improdutivamente o que
ensina o Espiritismo e, cheio de si, diz todos esses disparates. Não, não quero
dizer que o movimento de mãos e braços, por si sós, sejam a tradução da
sabedoria nem que todos movimentos estejam corretos ou sejam necessários. Não e
não. Os movimentos têm sua razão de ser, têm suas lógicas e seus motivos. Não são
aleatórios nem robotizados por Espíritos. Para fazê-los com correição e
competência é necessário estudo sério e aprofundado, experimentação segura e
continuada, além de postura ética elevada e moral bem ajustada aos bons
princípios morais. O que não se pode dizer, por outro lado, é que os movimentos
sejam sem lógica e que ferem o bom-senso. Afinal, a que bom-senso se refere o autor?
Ao dele ou ao de Allan Kardec? E qual é a incoerência doutrinária que existe
que não seja a de desrespeitar o Magnetismo, o qual Kardec afirmou ser a mesma
ciência espírita? Sugere o senhor Levenhagen que o passista, não sabendo como
manipular os fluidos, deverá proporcionar o equilíbrio necessário para que a exteriorização
dos seus próprios fluidos não prejudique o trabalho desenvolvido no plano espiritual
pelas entidades responsáveis. Isso é engraçado, pois ele pede que o passista
proporcione o equilíbrio necessário na exteriorização de seus fluidos sem
explicar como. Pode até parecer algo fácil e simples, mas ele não comentou como
fazer. Sendo assim, fico na dúvida: será que o senhor Levenhagen ainda
desconhece que as imposições de mãos, quando feitas por magnetizadores, são “concentradoras
de fluidos” e que estes, quando concentrados em determinadas partes do ser humano,
geram desconfortos, incômodos, mal-estares e até mesmo crises graves de várias
ordens e que, a despeito da proteção espiritual, muitos desses casos só são bem
resolvidos se um magnetizador atuar dispersivamente sobre esses mesmos fluidos?
E saberia ele que a quase totalidade das atitudes de dispersão fluídica só se realizam
com movimentação rápida das mãos?Para corroborar com a idéia de que a simples imposição
de mãos é suficiente para tratar de casos graves, o senhor Levenhagen
transcreveu o início de um caso narrado na Revista Espírita, de Allan Kardec,
de setembro de 1865, intitulado de “Cura pela Magnetização Espiritual”. Não vou
comentar o artigo de Kardec, pois o próprio nome já diz do que se trata: da
ação fluídica numa operação espiritual, e não essencialmente magnética, na cura
de uma fratura. Bem se vê que se trata de exemplo rico, porém pouco comum,
tanto que não se tem outros registros de curas semelhantes na própria revista
de Kardec. Mas o senhor Levenhagen preferiu esse caso para generalizar uma
situação que o próprio codificador deixou como não muito comum. Senão, vejamos
o que está anotado em A Gênese, capítulo 14, item 34: “É muito comum a
faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do
exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é
mais rara e o seu grau máximo se deve considerar excepcional”. (grifei)
Primeiro, no trecho acima destaquei que a faculdade pode
desenvolver-se pelo exercício ― o que não seria possível de haver se se tomar a
sugestão do senhor Levenhagen de só se fazer imposição de mãos. Depois vem o
caráter de excepcionalidade das curas imediatas através das imposições de mãos,
sinteticamente afirmado por Allan Kardec. Creio, portanto, ser desnecessário
prolongar-me nessa análise, já que ela trata de um caso à parte e não dos casos
gerais. Concluindo o seu artigo, o senhor Levenhagen recomenda ao interessado
em estudar o tema o capítulo 14 de A Gênese, de Allan Kardec, e o capítulo O
Passe, do livro A Obsessão, o Passe, a Doutrinação, de J. Herculano Pires.
Convenhamos, é muito restrita a sugestão de leitura indicada por ele. Primeiro
porque há material farto a ser estudado; desde O Livro dos Espíritos, passando
pelo Livro dos Médiuns, A Gênese (não apenas no capítulo 14) e o próprio
Evangelho Segundo o Espiritismo, sem falar nos doze volumes da Revista
Espírita. Depois, a obra quase toda de André Luiz trata do assunto, além de outras
obras valiosas como Magnetismo Espiritual, de Michaelus, vários livros de
Gabriel Delanne e Leon Denis, e assim por diante. Consideremos, ainda, que recentemente,
no ano passado (2006), foi lançado uma rica obra pela Lachatre, intitulada
Mesmer, de Paulo de Figueiredo. Desprezar tudo isso para privilegiar esse
opúsculo do senhor Herculano Pires, com todo respeito, é menoscabar a
capacidade de estudo e raciocínio dos leitores. Nessa obra, o senhor Herculano
Pires diz que nada é tão simples como se aplicar um passe; basta dá-lo. E eu me
pergunto: será? Se for verdade, por que será que existem cursos de passistas?
Por que será que quando se precisa de um passe não se busca alguém que
simplesmente o dá? Ademais, conforme registrou o próprio senhor Levenhagen,
nessa mesma obra o senhor Herculano Pires afirma: “O passe espírita é
simplesmente a imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus como se vê nos
Evangelhos”. Ora, será que no Evangelho só se vê mesmo imposição das mãos? E a
cura da hemorroíssa, que foi curada ao tocar nas vestes de Jesus? E do cego no
qual Jesus usou saliva e barro para restituir-lhe a visão? E os que ele curou à
distância? E os que ele tocou, em vez de impor as mãos? Convenhamos, Jesus não
apenas fez imposição de mãos nem cabe qualquer autoridade para alguém escrever
que a imposição de mãos é a síntese do passe espírita, pois tal assertiva não
se encontra lavrada em nenhuma das obras da Codificação, nem na Revista
Espírita nem em qualquer anotação de Kardec. Ao contrário disso, ele sempre
afirmou que o Espiritismo e o Magnetismo estão de mãos dadas, de forma
inseparável, a não ser que se busque prejuízos para essas ciências. Como disse
no início, este artigo corria o risco de ficar muito extenso. E ficou. Mas
ainda teria muitas citações, da Codificação e de outras obras, referendando que
a visão da imposição das mãos como técnica única é um equívoco que precisa ser repensado.
Não por meu querer ou minha maneira de ver e perceber o tema, mas pelas evidências,
pelas pesquisas sérias, pelas experimentações, por tudo o que, ao longo dos
milênios, vem sendo cabalmente demonstrado. Sendo as imposições concentradores fluídicos,
muitas complicações surgem dessa prática indiscriminada. O Mundo Espiritual pede
ao mundo físico que estudemos mais aplicadamente, sem medos de não acertar algumas
vezes, desde que prossigamos, resolutos, na busca do grande ideal do bem. O
Espiritismo é ciência e, por isso mesmo, deve merecer de seus adeptos um
comportamento científico, também.
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