Ensaio Teórico das Curas Instantâneas.
Certas doenças têm sua causa original na própria alteração
dos tecidos orgânicos; é a única que a ciência admitiu até hoje; e como ela não
conhece para remediá-la senão as substâncias medicamentosas tangíveis, não
compreende a ação de um fluido impalpável tendo por propulsor a vontade. No
entanto, as curas magnéticas estão aí para provar que isso não é uma ilusão.
Na cura das doenças dessa natureza, pelo influxo fluídico,
há substituição das moléculas orgânicas mórbidas por moléculas sadias; é a
história de uma velha casa da qual se substituem as pedras carcomidas por boas
pedras; sempre se tem a mesma casa, mas restaurada e consolidada. A torre
Saint-Jacques e Notre-Dame de Paris acabam de sofrer um tratamento deste
gênero.
A substância fluídica produz um efeito análogo ao da
substância medicamentosa, com esta diferença de que sua penetração, sendo
maior, em razão da tenuidade de seus princípios constituintes, ela age mais
diretamente sobre as moléculas primárias do organismo que não podem fazê-lo as
moléculas mais grosseiras das substâncias materiais. Em segundo lugar, sua
eficácia é mais geral, sem ser universal, por que suas qualidades são
modificáveis pelo pensamento, ao passo que as da matéria são fixas e
invariáveis, e não podem se aplicar senão em casos determinados.
Tal é, em tese geral, o princípio sobre o qual repousam os
tratamentos magnéticos.
Acrescentamos sumariamente e por memória, não podendo aqui
aprofundar o assunto, que a ação dos remédios homeopáticos em doses infinitesimais
está fundada sobre o mesmo princípio; a substância medicamentosa sendo levada,
pela divisão, ao estado atômico, adquire até um certo ponto as propriedades dos
fluidos, menos, no entanto, o princípio anímico, que existe nos fluidos
animalizados e lhes dá as qualidades especiais.
Em resumo, trata-se de reparar uma desordem orgânica pela
introdução, na economia, de materiais sãos para substituir os materiais
deteriorados. Esses materiais sãos podem ser fornecidos pelos medicamentos
comuns em natureza; por esses mesmos medicamentos no estado de divisão
homeopática; enfim, pelo fluido magnético, que não é outra do que a matéria
espiritualizada. São três modos de reparação, ou melhor, de introdução e de
assimilação dos elementos reparadores; todos os três estão igualmente na
Natureza, e têm sua utilidade segundo os casos especiais, o que explica porque
um triunfa onde outra fracassa, porque haveria parcialidade em negar os
serviços prestados pela medicina comum. São, em nossa opinião, três ramos da arte
de curar destinados a se suprirem e a se completarem segundo a circunstância,
mas dos quais nenhum está fundado em se crer a panaceia universal do gênero
humano.
Revista Espírita, março de 1868
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