O texto abaixo fez parte de um sermão do Padre Lacordaire
proferido em dezembro de 1846 na Catedral de Notre-Dame em Paris.
Foi extraído da Introdução do livro Le Monde Occulte, de
Henri Delaage.
As forças ocultas e magnéticas das quais o Cristo é acusado de se ter apoderado para produzir milagres,
eu as nomearei sem medo e poderia livrar-me delas tranquilamente, posto que a
ciência não as reconhece ainda, chegando até a proscrevê-las. Entretanto
prefiro obedecer minha consciência à ciência. Vocês invocam então as forças
magnéticas: pois bem, creio nelas sinceramente, firmemente; creio que seus
efeitos foram constatados, ainda que de maneira por ora incompleta, e que assim
será provavelmente sempre, por homens instruídos, sinceros e até cristãos;
creio que esses fenômenos, na grande maioria dos casos, são puramente naturais;
creio que o segredo dela nunca foi perdido sobre a terra, que ele foi
transmitido de geração em geração, que ele deu origem a inúmeras ações
misteriosas, cujas pegadas são facilmente reconhecidas e que atualmente ele
deixou a sombra das transmissões subterrâneas porque o século atual foi marcado
na fronte com o sinal da publicidade. Creio em tudo isso. Sim, senhores, por
intermédio de uma preparação divina contra o orgulho do materialismo, por intermédio
de um insulto à ciência que data do mais longínquo que podemos recordar, Deus
quis que houvesse na natureza forças irregulares, irredutíveis a fórmulas
precisas, quase incontestáveis pelos processos científicos. Ele assim o quis
afim de provar aos homens tranqüilos nas trevas dos sentidos que fora até mesmo
da religião habitava em nós resplendores de uma ordem superior, tênues luzes
aterradoras de um mundo invisível, uma espécie de cratera por onde nossa alma,
escapada por um momento das terríveis ligações com o corpo, sobrevoa espaços
insondáveis, dos quais ela não conserva qualquer recordação, mas que a advertem
bastante que a ordem presente esconde uma ordem futura, diante da qual a nossa
não é mais do que o nada.
“Tudo isso é verdade, assim eu creio; mas é verdade também
que essas forças obscuras estão presas a limites que não testemunham nenhuma
soberania sobre a ordem natural. Mergulhado num sonho artificial, o homem vê
através de corpos opacos a certas distâncias; indica remédios capazes de aliviar
e até mesmo de curar doenças do corpo; parece saber coisas que não sabia e que
esquece no momento em que acorda; exerce por sua vontade um grande império sobre
quem com os quais está em comunicação magnética: tudo isso é doloroso e
trabalhoso, mesclado com incertezas e abatimentos. É um fenômeno de visão, bem
mais do que a operação, um fenômeno que pertence à ordem profética e não à
ordem milagrosa. Não vimos em lugar nenhum uma cura súbita, um ato evidente de soberania.
Mesmo na ordem profética, nada é mais miserável?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário