Comentando sobre o artigo “Imposição de mãos”, de Ivan
Arantes Levenhagen, contido nos endereços
Jacob Melo
Em meus livros sobre passes e magnetismo tenho escrito,
repetidamente, acerca da questão das imposições de mãos como técnicas únicas de
transmissão de fluidos. Este, como muitos outros sub-temas relacionados aos
passes, tem gerado discussões, na maioria das vezes pouco produtivas, quando, a
meu ver, o ideal seria que os opinadores se voltassem mais ao estudo objetivo,
direto e profundo do tema, a fim de não ficarmos limitados às variantes de uma bibliografia
restritiva, da opinião do “eu acho”, da insustentável afirmativa do “sempre foi assim” ou ainda da
referência pessoal e desprovida de critérios de alguns “guias”.
Mesmo sendo partidário de que toda e qualquer opinião merece
ser considerada, inclusive a dos guias a quem acabei de me referir, isso não significa
dizer que não devamos ter idéias próprias, especialmente se baseadas em estudos
apropriados, na experiência vivencial e em pesquisas dirigidas àquilo que
buscamos. Por isso mesmo costumo dar atenção a todas as matérias que chegam ao
meu conhecimento e que dizem respeito aos temas que me interessam conhecer,
estudar e aprofundar. Todavia, um tipo de opinião me preocupa; não é a
desarrazoada ou mesmo a que é solta ao vento por quem fala por falar, mas a que
procede dos que, escrevendo ou falando muito bem, não revestem suas palavras de
um conhecer mais apropriado, bem embasado e que deixe claro o sentido de tratar
o assunto com isenção. Preocupo-me porque opiniões assim costumam servir de
baliza para muitos leitores e ouvintes, os quais, sem melhores alicerces de conhecimento
pessoais, absorvem-nas de forma pouco produtiva, quase sempre comprometendo o
que se deseja ter como bom. Tem sido comum pessoas me telefonarem e escreverem
pedindo minha opinião sobre algumas referências que costumam aparecer fortemente
favoráveis a que só se aplique passes utilizando estritamente a imposição de
mãos. Várias dessas pessoas costumam fazer alusão ao artigo referido acima.
Sendo assim, vou tomá-lo como base para expor o que entendo acerca da questão,
mesmo que para isso tenha que me estender mais do que o normal para um artigo como
este. Antes de iniciar o comentário acerca. São de autoria de Jacob Melo os
livros: O Passe, seu estudo, suas técnicas, sua prática; Manual do passista,
Cure-se e cure pelos passes; e A cura da depressão pelo Magnetismo. daquele
artigo devo dizer que, lamentavelmente, não tive ainda o prazer de conhecer o
seu autor, o irmão Ivan Arantes Levenhagen, portanto, não sei o quanto ele está
enfronhado nas pesquisas do passe e do magnetismo. Mas, como sua matéria é
pública, me permitirei tratar do assunto baseado em seu escrito em vez de ficar
limitado e repetir minha visão sobre o assunto todas as vezes que me questionam
a respeito. Neste artigo, mesmo respeitando aqueles que não concordem com minha
abordagem, colocarei como leio o trabalho apresentado por esse companheiro de
ideal e certamente considerarei o que posso e devo acrescer para um melhor esclarecimento
do assunto. No início de seu artigo ― Imposição de mãos ―, o senhor Levenhagen,
espírita de Resende -RJ, informa que faz palestras e participa de encontros com
dirigentes espíritas, com a finalidade de conhecer os trabalhos visitados e depois
comparar o que eles realizam com o que Allan Kardec codificou. Portanto, ele
deve ser, no mínimo, um profundo conhecedor da obra de Allan Kardec, já que se
considera com condições de realizar tão difícil análise comparativa. Para
apoiar o que irá dizer ao longo do artigo, ele buscou um trecho de Allan
Kardec, em O Livro dos Médiuns, capítulo XIV, que trata sobre a mediunidade
curadora. Eis a citação: “Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo,
e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele
aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades
necessárias." Antes de seguir com o artigo do senhor Levenhagen, vou
buscar uma questão de O Livro dos Espíritos, a de número 555, para refletirmos sobre
seu amplo contexto.
- Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?
“Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas que, quando
de boa-fé, gozam de certas faculdades, como sejam a força magnética ou a dupla
vista. Então, como fazem coisas geralmente incompreensíveis, são tidas por
dotadas de um poder sobrenatural. Os vossos sábios não têm passado muitas vezes
por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?”
O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma
imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de
fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O
conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando
a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo
contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é
impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula
crendice. (grifei)
Nessa questão fica ressaltado, com bastante ênfase, o zelo
do senhor Allan Kardec em destacar a imperiosidade do consórcio entre o Magnetismo
e o Espiritismo, a tal ponto que, em seu dizer, essas duas ciências formam uma
só. E ainda acrescenta que de posse do conhecimento lúcido dessas duas ciências
saberemos distinguir o que é natural do que não passa de crendice. Tomando esse
ponto como basilar, posso dizer que as “coisas” do Magnetismo não poderão nem deverão
ser consideradas como crendices, muito menos ridículas, do contrário o senhor
Allan Kardec estaria em falha grave na sua proposição. Voltemos agora ao texto
seccionado pelo autor do artigo que estou analisando. A primeira coisa que me
causa profunda estranheza é que ele tenha suprimido, em sua transcrição, a
colocação que deu origem àquela resposta. E se isso não bastasse, ele ainda suprimiu
a primeira frase da resposta, daí eu dizer que sua citação foi seccionada e não
selecionada. Mesmo correndo o risco de me estender demais, vou transcrever o
trecho integral para que comecemos a ver que nem sempre aquilo que está destacado
traduz integral e verdadeiramente o que se advoga. Vou preferir pecar pelo
excesso de transcrição a falhar por omissão.
2ª Entretanto, o médium é um intermediário entre os
Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que
se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha. "É
um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela
ação dos Espíritos que ele chama em seu auxilio. Se magnetizas com o propósito
de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo
teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe
dá as qualidades necessárias." (grifei)
Como se observa, Allan Kardec faz uma afirmativa, na qual
expressa sua convicção de magnetizador e sua dúvida quanto à influência espiritual
no ato magnético. Quanto à parte que se refere a quem “pertence” a força
magnética, não só ele a afirma como é confirmada pelos Espíritos: “... a força
reside, sem dúvida, no homem...”. Isto estabelecido fica claro que a ação
magnética não é alheia ao passista, ao magnetizador. Isto difere da ilação de
que se os Espíritos ampliam a força e a vontade ficam os passistas dispensados
de suas posturas como magnetizadores, aí incluindo o movimentar as mãos. Creio
deva ser relembrado, para não parecer que estou apenas me prendendo a palavras,
que o Magnetismo é uma ciência que deve ser conhecida lucidamente e, em assim sendo,
merece ser respeitada. Como ciência, o Magnetismo ensina, há milênios, que a movimentação
das mãos não é obra aleatória, alegoria ou simples gesto destituído de lógica.
Querer desnaturar isso logo no início do artigo e, ainda
mais, tomando por base uma citação truncada de Allan Kardec, a mim me parece
uma argumentação falseada na base e contraditória ante o que propôs o livro
básico do Espiritismo. Comentando o verbo invocar colocado na resposta dos
Espíritos a Kardec, o senhor Levenhagen deu uma explicação que, mais uma vez,
parece contradizer a proposta de Allan Kardec. Afirma ele que “a invocação de
que falam os espíritos acontece mediante uma simples oração, uma prece, uma
transmissão do pensamento do encarnado em direção ao desencarnado”. Estranho,
muito estranho. Mesmo sabendo que, genericamente, um pensamento num determinado
Espírito ou uma oração sejam consideradas como uma invocação ― ou evocação ―,
um chamamento específico como o que está tão bem registrado por Kardec na
questão, não seria algo tão superficial. Afinal, se assim fosse, literalmente,
qualquer pensamento teria o poder fenomenal de atrair falanges de Espíritos e,
por isso mesmo, a qualquer tempo e lugar poderíamos aplicar passes sem maiores
cuidados. Por outro lado, se um singelo pensamento tivesse o dom de exercer
atração tão poderosa seguramente jamais estaríamos à mercê de obsessores, pois
que bastaria um lampejo de memória espiritual ou uma prece qualquer, chamando
por Espíritos superiores, e tudo estaria resolvido, como num toque de mágica.
Mas, bem o sabemos, não é assim que ocorre. A evocação a que os Espíritos
aduziram a Kardec é algo mais profundo, mais rico em postura de recolhimento e concentração.
Ademais, o exemplo dado na resposta é que se busque por um bom Espírito, “que
se interesse por ti e pelo teu doente”. Como se percebe, não se trata de uma
evocação qualquer ou, menos ainda, que qualquer Espírito seria capaz de exercer
todo aquele poder ali citado. É necessário um direcionamento, um querer, uma
vontade determinante. Se tomarmos o prosseguimento da transcrição apresentada,
perceberemos uma forma natural de evocação, a qual não foi consignada no comentário
do senhor Levenhagen:
3ª Há, entretanto, bons magnetizadores que não crêem nos
Espíritos?
"Pensas então que os Espíritos só atuam nos que creem neles?
Os que magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que
nutre o desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo
desejo do mal e pelas más intenções, chama os maus." (grifei)
Interessante notar esse destaque. Se, nalguns casos, a
evocação é necessária, a postura de um “bom magnetizador” é sempre atrativa de
bons Espíritos. Isto assim é porque o conceito de bom magnetizador não se
prende ao potencial magnético apenas, mas ao caráter moral, ético e de
equilíbrio do profissional do magnetizador (ao tempo de Allan Kardec, recordemos,
os magnetizadores eram profissionais, credenciados, e em seus consultórios
recebiam pacientes; por sinal, o senhor Kardec foi um desses bons magnetizadores
de sua época). Dessa forma, mais uma vez se percebe, com nitidez, a presença e
a ação dos Espíritos nas atividades magnéticas, todavia, em nenhuma dessas
referências sobra espaço para se inferir que o magnetizador tenha ou exerça um
papel menor, sem ação, sem movimentos. Isto, inclusive, pode ser reforçado pela
questão seguinte, no prosseguimento do mesmo diálogo de Kardec com os
Espíritos:
Continua
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