RIVAIL e o MAGNETISMO
O magnetismo
animal, também conhecido por mesmerismo, visto ter sido Franz Anton Mesmer,
doutor pela Universidade de Viena, o seu célebre renovador nos tempos modernos,
esteve em voga nos fins do século XVIII, adquirindo maior impulso na primeira
metade do XIX. Na França, sobretudo, sumidades médicas e ilustres prelados
confirmavam a veracidade dos fenômenos magnéticos, principalmente no que diz
respeito a curas psíquicas, a diagnósticos e prescrições terapêuticas
fornecidos por sonâmbulos, com quem igualmente se observavam incontestáveis
fatos de clarividência ou lucidez, de visão a distância, de visão através de
corpos opacos, de previsão etc.
Pouco depois que o
jovem discípulo de Pestalozzi chegou a Paris, teve a sua curiosidade despertada
para o magnetismo animal, a que o marquês de Puységur, juntamente com d'Eslon,
professor e regente da Faculdade de Medicina de Paris, e com o sábio
naturalista Deleuze, haviam imprimido nova feição, ao modificarem os métodos de
Mesmer, disso resultando na descoberta do sonambulismo provocado. Rivail
refere-se elogiosamente a esses magnetistas franceses, colocando ao lado deles
os nomes de dois outros grandes vultos: o barão Du Potet e o sr. Millet.
A iniciação de
Rivail nesse novo ramo dos conhecimentos humanos deu-se aproximadamente em
1823, segundo ele próprio o afirmou. E nos anos que se seguiram aplicaria parte
do seu tempo, mas sem prejuízo de suas tarefas educacionais, no estudo
criterioso e equilibrado, teórico e prático, de todas as fases ou graus do
sonambulismo, testemunhando muitos prodígios provocados pela ação do agente
magnético. Suas leituras não se circunscreveram às obras favoráveis ao
magnetismo. No propósito de aquilatar o valor das objeções, leu, igualmente,
conforme frisou na página 277 da Revue Spirite de 1858, grande número de livros
contra essa ciência, “escritos por homens em evidência”.
O barão Du Potet,
que mais tarde seria amigo dos espíritas, tornara-se desde 1825 o chefe da
escola magnética na França, tendo ido mais longe que seus predecessores na
aplicação do magnetismo à terapêutica. Este justamente o lado que mais
impressionou a Rivail, que com o tempo pôde inteirar-se bem da força magnética
que todos os seres humanos possuem em graus diversos, vindo a ser, ele próprio,
“experimentado magnetizador”, segundo escreveu seu amigo pessoal e discípulo
Pierre-Gaëtan Leymarie, na Revue Spirite de 1871. Este valoroso espírita
lembraria ainda, pela Revue Spirite de 1886, página 631, que o mestre lionês
conheceu as pesquisas do padre português José Custódio Faria (o abbé Faria dos
franceses) e lhe rendia as devidas homenagens. O padre Faria, iniciado nas
práticas do Magnetismo pelo marquês de Puységur, a quem dedicou seu livro De la
cause du somneil lucide, ou étude de la nature de l'homme (1819),
considerando-o seu mestre, foi o precursor do hipnotismo de Braid. Lecionou em
liceus e academias de várias cidades francesas.
Despido dos
preconceitos dominantes na época, o padre Faria pôs por terra o caráter
sobrenatural com que a Igreja cercava o magnetismo, iniciando em 1813 as suas
concorridas conferências na rua de Clichy (Paris), seguidas de demonstrações
práticas.
A Igreja condenava
o Magnetismo. Tudo provinha da ação de fluidos de origem infernal. Um teólogo
francês escreveu que “o sonambulismo e o magnetismo eram sobrenaturais e
diabólicos, anticristãos, anticatólicos e antimorais”. O padre Faria estudou as
práticas magnéticas e convenceu-se da inanidade de tais interpretações. Crente
e padre, não teve dúvida em afrontar as iras dos teólogos do seu tempo, para
afirmar que nada havia de sobrenatural em tais fenômenos e que o sono hipnótico
era, afinal, uma “modalidade da sugestão.” (Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira , Lisboa – Rio de janeiro, vol. X, p.919)
Diz Anna
Blackwell, no prefácio à sua tradução inglesa (1875) de O Livro dos Espíritos,
que Rivail tomou parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris,
a mais importante da França. Ele, porém, ficaria eqüidistante das rivalidades
doutrinárias que haviam surgido entre os magnetizadores parisienses. Soube
fazer amigos nessa e naquela corrente de idéias, e um deles, o magnetizador
Fortier, a quem conhecia desde muito tempo, foi quem, em 1854, lhe falaria pela
primeira vez das chamadas mesas falantes.
Tendo, assim,
adquirido sólidos conhecimentos de magnetismo, ciência que ele mais tarde, em
diferentes ocasiões, demonstrou possuir em profundidade ao elaborar o corpo
doutrinário do Espiritismo, foi capaz de perceber, logo ao início de suas
observações pessoais junto às mesas girantes e falantes a íntima solidariedade
entre o Espiritismo e Magnetismo, o que o levaria a afirmar: “Dos fenômenos
magnéticos do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas, não há senão
um passo; sua conexão é tal, que é, por assim dizer, impossível falar de um sem
falar do outro.”
(WANTUIL,
Zeus e THIESEN, Francisco. ALLAN KARDEC. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Vol.
I, cap. 17. P. 102 a 105)
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