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domingo, 3 de junho de 2012

Analisando o Atual Momento Espirita - Parte I



Uma panorâmica dolorosa sobre o que estão e estamos fazendo com a união entre o Espiritismo e o Magnetismo.
Por Jacob Melo (agosto 2011)
 Ouço,desde pequeno, espíritas de nome, renome ou anônimos, pronunciarem dignos e justos elogios à católica Madre Tereza de Calcutá, pois ela preferiu ajudar criaturas, que viviam na mais profunda e dolorosa miséria, a viverem e sobreviverem com um mínimo de dignidade e respeito humano, do que simplesmente ser apenas e tão-somente mais uma freira. Ouço também falarem e escreverem sobre Albert Schweitzer, protestante prestigiadíssimo por seus dons artísticos, médicos e literários, mas que em nossas palestras irrompe como o valoroso homem repleto de dignidade humana a ajudar pessoas a igualmente viverem e sobreviverem em meio às misérias do cotidiano, sem dar muita importância ao rótulo de a que religião se ligava. Quem não ouviu, soube e até repete exemplos comovedores do hindu Ghandi, que em lugar de se dizer dessa ou daquela religião preferiu libertar seu povo sem um único gesto de violência, fazendo com que seu exemplo e sua vida fossem maiores do que os vínculos que lhes pudessem ou quisessem imputar. E como esses, tantos outros personagens a se destacarem ante a humanidade como exemplos grandiosos de criaturas de bem, sem que seus rótulos digam mais ou menos do que seus feitos...

Em nosso meio espírita, personalidades gradiosas assim tem sido vistas, compreendidas e até divulgadas não pelos seus vínculos a igrejas ou dogmas, mas pelo que verdadeiramente fazem em nome do Bem. Que ótimo que seja assim, afinal fica demonstrado que reconhecemos os valores das ações sem nos determos ante as aparências.

Mas...Infelizmente, quando se trata de trabalhador espírita encarnado, o tratamento não é semelhante; não se costuma ter-se a mesma visão límpida para com o bem realizado por ele, seja em que área for.

Nosso querido Chico Xavier, hoje uma unanimidade mundial, sofreu horrores por conta dos “preservadores da pureza doutrinária”, já que, na opinião daqueles, ele infestava o Espiritismo de “novidades” impuras. Hernani Guimarães Andrade, nosso mais expressivo nome em termos de ciência e verdadeiro aprofundamento das bases científicas do Espiritismo, sofreu perseguições cruéis, injustas, mesquinhas, mas que agora, desencarnado, é louvado até pelos que antes o detrataram. Peixotinho, grande médium de materializações do nosso passado recente, hoje é lembrado com saudade, respeito e admiração, mas durante seu exercício mediúnico, conforme me contou minha mãe, a senhora Dagmar Melo, foi quase que execrado publicamente, por ser apontado como mistificador.

Hoje, de uma forma mais generalizada e partindo de onde deveriam surgir os ensinamentos da vivência fraterna, amiga, humana e cristã, assistimos a um espetáculo de duvidoso e péssimo gosto: o de se descobrir quem é e quem não é espírita. Pior ainda é que junto com esse desarrazoado vem o julgamento do que é e o do que não é Espiritismo.

No que parece ser a tônica vigente, quem é espírita não deve apenas ser o que dele preconizou Allan Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”, tal como se encontra, devidamente por ele grifado, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 17, item 4. Espírita, pelo que percebemos na atualidade, é aquele que segue as normas ditadas por alguém ou alguma instituição que se diz defensora da Pureza Doutrinária. E aí, nessa defesa, cabe praticamente tudo: desde o desconhecimento, o desrespeito e a afronta contra a própria obra de Allan Kardec até os limites que diretores e diretorias acham por bem implementar, seja como fruto de suas “experiências”, seja como orientação de seus guias – que parece também desconhecem a Obra de Allan Kardec.

A alegação é eloquente: “estamos com Jesus Cristo” enquanto os outros “são elementos das trevas, indivíduos do mal que aqui vieram apenas para destruir a pureza de nossa doutrina”.

Surge então um fato novo; novo e repugnante: o Magnetismo não tem nada a ver com o Espiritismo. Dizem: são novidades que estão querendo impor à “santa Doutrina”, com o visível propósito de desvirtuar nosso movimento.

Parece não ter adiantado muito Allan Kardec ter apresentado a indissociável ligação entre o Espiritismo e o Magnetismo como chave para resolver o que é possível do impossível, o que não passa de ridícula crendice. A isso ele se reportou muitas vezes, mas, para um mero acompanhamento cronológico, na questão 555 de O Livro dos Espíritos (1857) ele apresenta, de forma inequívoca, a ligação entre as duas ciências. Na Revista Espírita de março de 1858, um ano após, portanto, ele volta a referendar sua visão, opinião e segurança a respeito da união inseparável das duas ciências gêmeas – Espiritismo e Magnetismo. E novamente na Revista Espírita, agora de janeiro de 1869, portanto dois meses antes de desencarnar, ele nos brinda com o seguinte: “O magnetismo e o Espiritismo são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e se explicam uma pela outra, e das quais aquela das duas que não quer se imobilizar, não pode chegar a seu complemento sem se apoiar sobre a sua congênere; isoladas uma da outra, elas se detêm num impasse; elas são reciprocamente como a física e a química, a anatomia e a fisiologia”. Chega a parecer que o codificador do Espiritismo queria deixar muito claro que em momento algum mudou de opinião acerca do vínculo entre essas duas alavancas da humanidade. E parece que os defensores da pureza doutrinária não estão conseguindo ver isso. Portanto, vem a pergunta:

O que foi que fizemos com o Magnetismo?

A primeira coisa, de ordem prática, foi trocar-lhe o nome: Magnetismo (com M maiúsculo) por passes. Ou seja, permutamos a Ciência em si pela simples referência a um dos seus métodos, uma técnica, um veículo de exteriorização de fluidos. Agora, quando qualquer estudande interessado quer entender passes, não tem como encontrar apoio na obra de Allan Kardec, pois ele não tratou do assunto com esse nome, passe; para ele, isso é e sempre será uma ciência chamada Magnetismo. E, pasmem todos que refletirem, esse está sendo um granliquente argumento dos defensores da pureza doutrinária: o passe nada tem a ver com o magnetismo, portanto, ele não é magnetismo, logo, ele deve ser simples como um único gesto, pois quem cura são os Espíritos e não os homens.

Meu Deus! Aonde chegaremos seguindo esse caminho?!

Não quero usar isso como comparação, mas fica inevitável me lembrar de que a chamada “Santa Inquisição”, evento que se transformou no maior exercício de perseguição e morte, de injustiça e maldade, de despotismo e prepotência que nossa civilização viveu, todo ele foi realizado em nome de Jesus, em nome da defesa da pureza de seu Evangelho – pelo menos isso foi o que alegou seus deflagradores, administradores e executores.

Este assunto, bem se percebe, não pode ser tratado de forma pequena. Por isso mesmo, não quero tratá-lo apenas envolvido na emoção, mas bem firmado da razão. Para tanto, vou me permitir transformá-lo numa série de artigos, os quais farei publicar em minha página (www.jacobmelo.com) bem como nos sites e blogs de amigos e estudiosos que se interessarem em conhecer o que está ocorrendo no atual movimento espírita e como eu vejo e o que estou fazendo ou procurando desenvolver para que não nos afastemos nem de Jesus nem de Kardec, nem do Bem, nem da obrigação de servir e amar com eficiência e qualidade.

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