DO TEMPO NECESSÁRIO PARA JULGAR A AÇÃO REAL DO MAGNETISMO
O magnetismo, por não produzir sempre os efeitos sensíveis e
aparentes, torna necessário ser prudente e não decidir tão rápido que ele é
impotente sobre o doente que começou o tratamento. Nas moléstias agudas que
surgem de repente, é raro que o magnetismo não aja de maneira a mostrar logo
todo o bem que ele pode fazer ou sua impotência. Geralmente quinze dias são
suficientes para determinar e trazer efeitos reais e evidentes; mas já se viu
também a ação se fazer sentir apenas ao fim de alguns meses. “Eu tive ocasião
de ver, entre as doenças orgânicas inveteradas, diz o doutor Koreff, que a ação
só começou a se manifestar após dois meses ou mesmo mais tarde." Vi também
que o sono magnético se mostrou somente no fim da cura e que os sintomas do
sonambulismo só se manifestaram na convalescença. Parecia então que toda a
força era absorvida na esfera do mal orgânico. Eu tratei em Viena uma doença
que afetou a cunhada do representante da Rússia. A cura aconteceu em alguns
meses sem que eu tenha percebido o menor fenômeno magnético; a doença pareceu
ficar estacionária durante algum tempo. Na surdez causada unicamente por uma
afecção dinâmica do nervo, obtive várias vezes, curas completas, sem o menos
fenômeno sensível. Um soldado ferido na batalha de Waterloo, atingido pelo
tifo, que tinha produzido um abscesso na chaga da panturrilha, já minado pela
febre, a diarréia, recusando-se obstinadamente à amputação, foi curado em dois
meses pelo magnetismo sem que nenhum sintoma marcante se manifestasse nele. O
pequeno número de fatos que acabei de relatar, acrescenta o Sr. Koreff (Carta
do Sr. Korekff a Deleuze, Instruções Práticas, 403 a 407) são suficientes para
provar que as curas pelo magnetismo nem sempre são precedidas pelos efeitos que
anunciam sua ação e que não é preciso se desencorajar tão rápido.
DO GRAU DE SENSIBILIDADE MAGNÉTICA SEGUNDO A CONSTITUIÇÃO E
O TEMPERAMENTO DOS DOENTES
Mesmer disse: “Há corpos mais ou menos suscetíveis de
magnetismo”. E Puységur depois de numerosas observações, acrescentou já em
1784: existem doenças que, mesmo muito graves e perigosas, recusam a ação
magnética por certo tempo o que desencoraja às vezes o magnetizador e o
magnetizado. Eu acreditaria que tal doença que resiste à ação de um
magnetizador, cederia, talvez mais rápido, ao domínio de outro homem. Eu tive
doentes sobre os quais não pude jamais produzir o menor efeito, apesar do
desejo extremo que eles tinham de senti-lo e eu atribuo a causa apenas a minha
pouca analogia com eles.A experiência ensinará talvez que tal homem será mais
próprio que outros a curar certas enfermidades; talvez também os temperamentos,
os caracteres trarão considerações na escolha dos tratamentos, pela razão de
que estas causas podem constituir analogias e relações mais diretas nos
indivíduos. Eis, com efeito, o que demonstram sessenta anos de experiências: A
generalidade dos doentes é sensível à ação magnética. Há, entretanto aqueles
sobre os quais o magnetismo não age, seja por sua constituição, seu
temperamento ou ao gênero da doença ou ainda ao defeito de analogia com o
magnetizador. Há tal doença na qual a ação do magnetismo não se faz perceber,
tal outra onde ela será evidente. O mesmo homem que era insensível em estado
saudável provará os efeitos do magnetismo quando estiver doente. A
sensibilidade se manifestará num incômodo leve e não terá dado nenhum sinal
numa doença grave. Os mesmos homens são mais ou menos sensíveis à ação, segundo
as disposições momentâneas nas quais eles se encontram. Enfim, várias pessoas
se acreditam insensíveis à ação; mas é porque eles não encontraram ainda o
magnetizador que lhes convém. Quanto mais a marcha da natureza for perturbada,
mais é difícil restabelecê-la; o magnetismo tanto age de uma maneira mais
simples e mais eficaz sobre as pessoas que levam um vida simples e frugal, que
não tem sido agitadas pelas paixões como sobre aquelas que perturbam sua vida
pelos abusos mundanos ou pelos abusos dos remédios. As pessoas nervosas, quando
influenciadas pelo magnetismo, apresentam fenômenos singulares, mas elas
oferecem menos exemplos de curas. Os habitantes do campo, que vivem
simplesmente se curam bem mais facilmente e mais rápido que os outros. Enfim,
nas doenças crônicas, os sinais são menos sensíveis e menos prontos que nas
doenças agudas.
AUBIN GAUTHIER Tradução de Lizarbe Gomes
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