No
livro No mundo maior, Calderaro, o
instrutor de André Luiz, diz o seguinte:
No sistema nervoso, temos o cérebro inicial, repositório dos movimentos
instintivos e sede das atividades subconscientes: figuremo-lo como sendo o porão da
individualidade, onde arquivamos todas as experiências e registramos os menores
fatos da vida.
Assim,
pode-se considerar que esta zona é a zona posterior do cérebro. Na região do
córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o
cérebro desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a
nossa mente para as manifestações imprescindíveis no atual momento evolutivo do
nosso modo de ser (1).
O Dr. Jorge Moll Neto, no seu pós-doutorado no
NIH (National Institute of Health, USA), realizou um experimento em que os
sujeitos, dentro da máquina de ressonância magnética funcional, tinham que
optar entre receber dinheiro ou doar dinheiro para organizações de caridade, em
várias tentativas experimentais controladas estatisticamente e com controle das
regiões cerebrais ativadas durante estas tarefas(2).
Na primeira
condição do experimento, os participantes tinham que decidir entre receber
dinheiro ou não, de forma a compreender qual era a ativação cerebral
responsável pela recompensa monetária pessoal.
Na segunda
condição, os participantes tiveram que decidir entre realizar uma doação
não-custosa a uma organização de caridade (em que se pedia aos participantes
que fizessem uma doação
não-real, ou seja, que não perdessem dinheiro verdadeiro) ou uma oposição
não-custosa a uma organização dedicada ao aborto ou a uma associação de armas
(essa doação não-custosa implicava em intenção de prejudicar uma organização
dedicada ao aborto ou à produção de armas).
Finalmente,
a terceira condição foi semelhante à segunda, mas pediu-se que os participantes
realizassem uma doação custosa a uma organização de caridade (em que os
participantes perderiam dinheiro, na realidade) ou para se oporem a uma
organização de aborto ou de produção de armas.
Os
resultados deste estudo foram os seguintes: na primeira condição, chamada
condição de recompensa monetária pessoal, a maior parte dos participantes optou
por receber dinheiro, e os correlatos neurais foram a área tegmental
mesolímbica, o striato dorsal e o striato ventral(3).
Estas regiões são conhecidas como o sistema de
recompensa no cérebro, ou seja, são regiões também ativadas quando o ser humano
come chocolate ou pratica sexo, popularmente conhecidas como zona cerebral do
prazer(4),( 5).
Isto significa dizer que os sujeitos sentiram prazer quando
optaram por receber dinheiro.
Na segunda
condição, os participantes que optaram por fazer uma doação não-custosa
ativaram as mesmas regiões que a condição anterior, ou seja, a área tegmental
mesolímbica, o striato dorsal e o striato ventral. Para além dessas regiões, e
diferente da primeira condição e similar à terceira condição, verificou-se uma ativação do córtex
subgenual [incluindo a área de Brodmann (BA) 25]. Outro resultado interessante
foi o fato de que o striato ventral (em conjunto com a região septal) foi
ativado com maior intensidade em comparação com a primeira condição, a da
recompensa pessoal. Estas regiões são responsáveis pela afiliação aos outros.
Isto significa dizer que as pessoas que
realizaram doação não-custosa criaram uma ligação emocional com a causa da
caridade e sentiram prazer com a doação não-custosa.
Na terceira
condição, os correlatos neurais da doação custosa foram os mesmos da segunda
condição, mais uma região chamada córtex orbitofrontal lateral (no caso da
oposição custosa) e o córtex fronto-polar (no caso da doação custosa) / gyrus
frontal medial. O que também se revelou interessante foi a alta correlação
entre os participantes que ativaram esta última região (córtex fronto-polar e
gyrus frontal medial) e o nível de engajamento e capacidade de sacrifício dos
participantes para defender uma causa social. Isto sugere que o córtex
pré-frontal anterior está relacionado com a capacidade de sacrifício real que
estamos dispostos a fazer por uma causa moral. Em outro estudo, Jorge Moll e colegas
demonstraram que o córtex fronto-polar é intensamente ativado quando os
participantes realizaram julgamentos morais, diferente dos julgamentos
não-morais, em que esta ativação neural não se verifica(6).
O que este experimento demonstra é que a mesma
região que é ativada quando sentimos prazer sensorial é ativada quando
praticamos o bem.
Este estudo
prova cientificamente a
assertiva de Francisco de Assis de que “é dando que se recebe”, e efetivamente
o cérebro recebe uma recompensa mais intensa quando fazemos uma doação, que
implica um sacrifício pessoal, em comparação com a condição em que recebemos
dinheiro. E esta recompensa não advém de receber nada, mas sim de doar alguma
coisa a alguém!
O que é
mais intrigante é o fato de que, além do sistema mesolímbico (conhecido pela
zona neural de prazer) ter sido ativado quando os participantes decidiram fazer
a doação, outra região neural extremamente importante foi ativada: a do córtex
pré-frontal anterior, particularmente o córtex fronto-polar e o gyrus frontal
medial.
Esta região
do córtex pré-frontal anterior é exatamente a região mencionada por Calderaro a
André Luiz: Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a
investigação científica
do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente, no
esforço de ascensão, representando a parte mais nobre de nosso organismo divino
em evolução(7).
Note-se que o livro foi escrito em 1947! Isto
significa dizer que o
Dr. Jorge Moll Neto, além de ter provado cientificamente a tese de que “mais vale dar do que
receber”, com base na neurociência cognitiva, demonstrou também que a região do
córtex pré-frontal anterior é a responsável pelas ações (decisões concretas de
doações morais) e sentimentos morais (sentimento moral de compaixão) mais
custosas e elevadas(8).
Conforme
asseverou Calderaro: Nos lobos frontais recebemos os «estímulos do futuro», no
córtex abrigamos as «sugestões do presente», e no sistema nervoso, propriamente
dito, arquivamos as «lembranças do passado»(9).
É
fantástico constatar que os estímulos criados em laboratório pelo Dr. Jorge
Moll Neto constituem “estímulos do futuro”, conforme a conceituação de
Calderaro, e que a Ciência, através de experimentos conduzidos em 2001, 2002 e
2006, comprovam afirmações
dos Espíritos escritas em 1947!
Esta é a
prova de que a ciência, mesmo sem saber, com o tempo, comprova as teses
espíritas, mesmo através de cientistas materialistas!
João
Ascenso é psicólogo social, neurocientista e expositor espírita (RJ)
Referências
(1),(7),(9)
XAVIER, Francisco Cândido. No mundo
maior. Pelo Espírito de André Luiz. Rio
de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1947. Cap.3 e 7. P.46, 101.
(2) MOLL,
J., OLIVEIRA-SOUZA, R., ESLINGER, P.J., BRAMATI, I.E., MOURÃO-MIRANDA,
ANDREIOULO, P.A., & PESSOA, L. (2002). The neural correlates of
moral sensitivity: a functional magnetic ressonance imaging investigation of
basic and moral emotions. Journal of Neuroscience, 22(7): 2730-2736.
(3),(4)
MOLL, J., KRUEGER, F., ZAHN, R., PARDINI, M., OLIVEIRA-SOUZA, R., &
GRAFMAN, J. (2006). Human fronto-mesolimbic networks guide decisions
about charitable donation. Proceedings of the National Academy of Science of
the USA, 103(42), 15623–15628.
(5) SCHULTZ, W. (2006). Behavioral Theories and the
Neurophysiology of Reward. Annual Review
of Psychology, Vol. 57: 87-115.
(6) MOLL,
J., ESLINGER, P. J. & OLIVEIRASOUZA, R. (2001). Frontopolar and
anterior temporal cortex activation in a moral judgment task: preliminary
functional MRI results in normal subjects.
Arq.
Neuropsiquiatr. 59, 657–664.
(8) MOLL,
J., ZAHN, R., OLIVEIRA-SOUZA, R., KRUEGER, F., & GRAFMAN, J. (2005). Opinion:
the neural basis of human moral cognition.
Nature Reviews Neuroscience,
6(10), 799–809.
Revista Cultura Espírita – nº 13 fevereiro 2012.
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