Comentando
a questão 424 de O Livro dos Espíritos
JACOB MELO
Os amigos
que lêem o muito criterioso Jornal Vórtice me pediram para tecer alguns
comentários acerca da seguinte questão de O Livro dos Espíritos: 424. Por meio
de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem
e restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido?
Antes de
relembrarmos a resposta dada pelos Espíritos ao senhor Allan Kardec, acredito
seja bom frisar que esta questão foi proposta na segunda parte do livro, em seu
capítulo 8, abordando acerca da emancipação da alma. Julgo importante esta nota
porque nem sempre é muito criterioso analisar itens sem que tenhamos a noção do
contexto em que ele esteja inserido.
Isto posto,
vejamos o que responderam os Espíritos: “Sem dúvida e todos os dias tendes a
prova disso. O magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso
meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter
o funcionamento dos órgãos.”
Chama a
atenção a forma categórica e quase inclemente com que o codificador “cercou” os
Espíritos com esta indagação. A mim me parece que ele não queria obter uma
resposta genérica, pois sabemos que desde muito se repete algo do tipo:
“chegada a hora, o corpo morre” (ver questões 708, 738, 853-a, 854 e 857 de O
Livro dos Espíritos). Ele pedia uma resposta bem medida e clara, como a que obteve.
Analisando
a resposta dada, sinto destacado que os Espíritos não entenderam a pergunta tomando
como referência uma assistência médica convencional e sim algo mais pertinente ao
vínculo com o sutil, fluídico mesmo, pois, do contrário, eles teriam iniciado a
resposta dizendo que a Medicina propicia infindáveis exemplos de casos tais.
Por outro lado, o codificador também pretendia uma resposta mais específica,
como a que obteve, do contrário ele aditaria observações acerca da ação clínica
ou medicamentosa. De passagem, já dá para ratificar o quanto eram afinados o entrevistador
e os entrevistados.
Todavia, o
que se apresenta em primeiro plano é o fato dos Espíritos ressaltarem o Magnetismo,
e não a Medicina, como base da resposta.
Mais
valioso ainda é a expressão, que pode ser entendida como uma Lei Natural, na
qual fica engrandecido que a vida orgânica depende, diretamente, do fluido
vital e que este pode ser transferido via magnetismo.
Esta
resposta, dada com tanta lucidez e precisão, esclarece um fato quase sempre apresentado
de forma um tanto quanto tendenciosa: o de que a chamada “moratória” é dada
apenas pelo Mundo Espiritual. Lembrando que por moratória se entende o
prolongamento de uma encarnação que se previa prestes a findar, com a colocação
dos Espíritos fica muito claro que alguém precisa fornecer a energética magnética,
o fluido vital, para que a vida orgânica se prolongue, através do funcionamento
dos órgãos. Esta energia, este fluido, é dado por indivíduos aptos a doarem-no e
estes se chamam magnetizadores.
Isto nos
leva a refletir sobre as possibilidades infinitas que temos para, ajudando ao
Mundo Espiritual, doarmos energias a fim de que a vida se prolongue um pouco
mais bem como possibilitar melhor qualidade de vida a moribundos.
Outra
observação ainda deve ser destacada: os Espíritos deixaram claro que isso não
pode se dar de forma absoluta, daí terem grafado que o Magnetismo “muitas
vezes” e não “todas as vezes” se constitui em poderoso meio de ação, já que tem
casos irreversíveis ou órgãos já sem as condições mínimas para absorverem e distribuírem
o fluido vital.
Após a
resposta dos Espíritos, Allan Kardec aditou o seguinte comentário: “A letargia
e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade
do movimento, por uma causa fisiológica ainda inexplicada. Diferem uma da outra
em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas
as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma
parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se
manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é
sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética”.
Com esta
observação provavelmente ele quis destacar que há casos em que a morte pode não
passar de um fenômeno aparente, quando o paciente simplesmente passa por um
estado de letargia ou catalepsia, pelo que a observação cuidadosa deve ser
sempre matéria de primeira linha. Mas, ao final de sua colocação, ele chama a
atenção de que a catalepsia por vezes é magnética, ou seja, são ações fluídicas
que estão interferindo no processo orgânico e, como tal, podem igualmente ser
mobilizadas por quem tenha conhecimento ou prática dessa ciência abençoada.
Creio ser
desnecessário dizer que nós, os espíritas, temos muito ainda a pesquisar e afinar
nossas ferramentas com as propostas na Codificação e no Magnetismo. E lembro
que, segundo Kardec, em Obras Póstumas, item 61: “É sempre um erro cair nos
extremos, e há tanto exagero em tudo reportar ao sonambulismo, como haveria, da
parte dos espíritas, em negar as leis do magnetismo. Não se poderia roubar à
matéria as leis magnéticas, do mesmo modo que, ao Espírito, as leis puramente
espirituais”.
JORNAL
VÓRTICE - ANO II, n.º 05, outubro/2009
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