Ao recorrermos à História, podemos facilmente constatar o quanto
o século XIX foi marcado pelo antropocentrismo, ou seja, o homem passou a ser o
centro de todos os interesses e suas realizações em todas as áreas passaram a
ser o objeto de estudo da Filosofia, da Sociologia, das Ciências, das Artes e
mesmo da Religião.
Neste contexto no qual o ser humano passa a ser o foco
principal das atenções, não é de se estranhar que a capacidade dele em curar
doenças utilizando suas próprias energias tenha sido tão largamente estudada.
Várias publicações sejam livros, revistas e jornais passaram
a estudar o magnetismo como energia curadora.
Também com este objetivo, em 1845 veio a público uma vasta
obra que reunia os estudos de diversos magnetizadores sob o título de “Traité
Pratique du Magnetisme et du Sonambulisme” (Tratado Prático do Magnetismo e do
Sonambulismo), de Aubin Gauthier.
Contendo mais de setecentas páginas, foi dividido em quatro partes:
1ª Filosofia do Magnetismo (quatro livros); 2ª Fisiologia do Magnetismo (nove livros);
3ª Terapêutica do Magnetismo (quatro livros); 4ª Magnetização do homem sobre si
mesmo.
Aubin Gauthier foi autor de obras como: Introdução ao
Magnetismo (1840) “exame de sua existência desde os indianos até a época atual,
sua teoria, sua prática, suas vantagens, seus perigos e necessidade de seu
concurso a Medicina”; História do Sonambulismo (1842) “entre os povos, sob diversos
nomes, êxtases, sonho, oráculos e visões, exame das doutrinas teóricas e filosóficas
da Antiguidade e dos tempos modernos sobre suas causas, seus efeitos, seus
abusos, suas vantagens.”; O Magnetismo Católico (1844) “ou Introdução à verdadeira
prática e refutação das opiniões da medicina sobre o magnetismo, seus princípios,
seus procedimentos e seus efeitos”.
Além desses livros, Gauthier também foi autor de “Tratado
dos Sonhos” e foi também redator-chefe de “A Revista Magnética”, descrita como
sendo um “jornal de curas e dos fatos magnéticos e sonambúlicos, bem como das teorias
e pesquisas históricas, discussões científicas e progresso geral do Magnetismo
na França e em todos os Estados da Europa”.
No prefácio de seu monumental Tratado Prático do Magnetismo
e do Sonambulismo, ele afirma que se esforçou em ali reunir todos os documentos
conhecidos até aquele momento, que estava ao acesso de todos os homens, mesmo aqueles
que não tivessem tempo de lê-lo por inteiro, poderiam ao menos, escolher no
índice o assunto que lhes interessar.
Respondeu também aqueles que fizeram observações sobre a abundância
de notas e as frequentes citações dos primeiros e mais célebres magnetizadores,
ao afirmar que a maioria dos homens do mundo, mesmo os médicos, não viam senão
o lado maravilhoso do magnetismo e não conhecem o nome de Mesmer a não ser para
atribuir-lhe o epíteto de charlatão; Puységur, Bruno e Deleuze são apenas
transgressores para eles.
É possível observar que Aubin Gauthier não escreveu um Tratado
para mostrar apenas os resultados de suas pesquisas, experiências e opiniões pessoais.
Além de relatá-las, procurava fundamentá-las em trabalhos anteriores
de conceituados magnetizadores.
Ainda assim, àqueles que alegavam que, desta maneira seu
Tratado seria apenas uma compilação, o obstinado Gauthier enfatizou: “uma
compilação bem feita é uma obra útil e eu perguntaria se existe hoje uma obra
que resuma com utilidade as opiniões, os princípios e os procedimentos que
formam a ciência magnética? Certamente não; assim sendo, meu livro, considerado
como compilação, seria sempre um progresso.”
Sem se preocupar em destacar o seu talento pessoal e
priorizando o estudo amplo da ciência magnética, ele nos legou uma obra repleta
de pesquisas minuciosas na qual o tema tão abrangente é abordado com rigor científico,
prudência e bom senso, numa linguagem bastante objetiva. Por esta razão,
tornou-se digna de credibilidade e serve como consulta a quem queira se dedicar
ao estudo do Magnetismo.
Mesmo prestando este relevante serviço, Gauthier já
registrava no prefácio do livro: “ignoro a sorte que esta obra terá durante minha
vida, numa época na qual os livros sérios são tão pouco lidos e num tempo em
que o magnetismo ainda é negado por tantas pessoas, mas tenho a esperança de
que ele permanecerá como uma obra útil e conscienciosa.”
Tal afirmação nos faz pensar: o que nós do século XXI poderíamos
responder a um escritor do século XIX que já manifestava incerteza quanto ao destino
de uma obra que, sem dúvida lhe exigiu imensa dedicação?
Sabemos que ainda hoje o magnetismo como agente curador continua
sendo bastante desconhecido e sua formas de ação permanecem ignoradas mesmo por
aqueles que já trabalham com a fluidoterapia.
Por isso salientamos que o magnetismo é um saber que precisa
ser resgatado: resgatado do esquecimento, dos equívocos, da indiferença à qual
foi relegado ao longo do tempo.
E para atender a esta finalidade o estudo de obra tão
importante como o “Tratado Prático do Magnetismo e do Sonambulismo” é
imprescindível. Mesmo que os livros sérios continuem sendo pouco lidos, nosso autor
conseguiu atingir a nobre finalidade de que seu livro permanecesse como obra
útil e conscienciosa. A Gauthier, os agradecimentos dos estudiosos do
magnetismo!!
Jornal Vórtice. Ano II, n.º 02 , julho/2009
Jornal Vórtice. Ano II, n.º 02 , julho/2009
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