DA EXTREMA
SENSIBILIDADE DAS CRIANÇAS À AÇÃO DO
MAGNETISMO E DE SEU PRONTO RESTABELECIMENTO
TRADUÇÃO DE
LIZARBE GOMES
Todas as experiências feitas desde Mesmer,
sobre as crianças provam que, por sua natureza não estar ainda contrariada
pelos abusos da vida, a ação magnética é bem mais rápida e bem mais salutar sobre elas que sobre os homens.
A filha primogênita da princesa M***, criança
de dez a doze anos, disse Puységur (1811) estava em convulsões violentas há várias horas; sua interessada
mãe e a Sra. Ch... sua tia, chorando perto de seu leito, perdiam a esperança de
conservá-la. Os pós e os remédios utilizados em casos semelhantes haviam sido
infrutuosamente administrados; o mal resistia a energia de todos os medicamentos;
ao menos foi o que me disseram as senhoras ao me solicitar que as seguissem a fim
de verificar se o magnetismo, do qual
haviam ouvido louvar a eficácia, poderia produzir algum efeito feliz sobre sua
pequena doente; atendi às suas súplicas.
Quando entrei na casa da Sra. M***, eu vi o quadro
de todas as dores: a pequena Honorine, os olhos verdes e fixos, estava
enrijecida e sem movimento e seus
pais,silenciosos em seu redor, pareciam apenas esperar pelo momento de receber
seu último suspiro.
Sem lhes dirigir a palavra, sem mesmo lhes
pedir um novo consentimento, eu tomei a pequena Honorine em meus braços com o
travesseiro no qual ela descansava; eu me sentei e a coloquei assim sobre meus
joelhos. Então, sem me ocupar com nada do que se passava ao meu redor, eu me concentrei inteiramente tocando esta criança com o único
propósito de produzir sobre ela o efeito que lhe seria mais salutar. Ao fim de
alguns minutos, acreditei perceber o retorno da respiração. Eu coloquei uma mão
sobre seu coração e senti fracos batimentos. Eu dizia a cada segundo, para mim
mesmo, as observações consoladoras que eu fazia. Meu profundo recolhimento
impôs um silêncio o qual, na dolorosa expectativa em que estávamos, ninguém tentou
romper. De repente, ouviu-se o ruído tranquilizador de uma abundante evacuação.
Exprimi a alegria que senti e, sem descobrir
ainda nem olhar a pequena, eu apenas continuei com mais energia o exercício de
minha ação magnética; logo um repouso geral dos músculos e a cessação do estado
convulsivo da criança foram os felizes resultados.
Em menos de meia-hora, enfim, eu tive a doce satisfação
de devolver a criança aos braços de sua mãe, inteiramente salva do perigo que a
ameaçava.
Na Rússia, na Prússia, na Baviera, os efeitos
do magnetismo sobre as crianças têm sido pertinentes e admiráveis.
Vê-se frequentemente curas miraculosas entre as
crianças, dizem o Sr. Brosse, médico russo e Muck, médico bávaro (1818). Eles
não opõem nem dúvidas nem preconceitos à influência magnética.
As crianças são mais dependentes da vontade dos
outros, mais suscetíveis, mãos irritáveis e a natureza mais ativa entre elas em
todas as funções é mais disposta a se regularizar para restabelecer a saúde.
Uma criança de dez anos, indiferente a tudo e absolutamente
idiota, foi trazida a casa do Sr. Wolfart, em Berlim. Ao fim de alguns dias,
ele expressou o desejo de retornar ao tratamento quando a hora fixada se
aproximava. Eu o vi, disse um desses senhores, quando entrava na casa do Sr.
Wolfart, abrir passagem na multidão de doentes para se aproximar dele. Depois
de um tratamento de alguns meses, as funções dos sentidos e as do espírito se
desenvolveram maravilhosamente.
Uma criança de quatro anos tinha sido curada de
uma coxalgia pela aplicação de um cautério; mas como se havia várias vezes
excitado o cautério com o pó epispástico, a criança sofria muito. As dores
cessavam assim que eu a magnetizava.
À noite, a mãe tentou magnetizá-la para adormecê-la
e consegui tão bem quanto eu. A criança lhe dizia: continue, mamãe, isto me faz
bem.
Eu vi, acrescentou este médico, crianças
fracas, pálidas, magras, tendo o ventre duro e inchado, em estado de atrofia
enfim, e entre as quais o quadro era bem avançado, se restabelecer em pouco
tempo pelo magnetismo; a digestão e a nutrição se operavam, os corpos
engordavam, os músculos se fortificavam e o crescimento parado se desenvolvia
perfeitamente.
Eu sempre notei que o magnetismo agia com mais prontidão,
mais força e mais sucesso sobre as crianças.
Eu lembro de uma cura da qual fui testemunha e que
me surpreendeu por sua rapidez; é a de uma menina de dois ou três anos. Esta
criança parecia bem nutrida, havia engordado, mas não podia se apoiar sobre
suas pernas. Quando ela ficava em pé, os joelhos dobravam, ela caía e começava
a chorar. Os membros eram, contudo, bem feitos, somente os músculos pareciam
frouxos e moles.
Na segunda vez que esta criança foi
magnetizada, ela se pôs em pé e na terceira vez, caminhou muito bem.
Entre as doenças as quais já vi curar entre as crianças
pelo magnetismo, eu posso citar as paralisias dos membros, as erisipelas, as
doenças de pele, os catarros pulmonares obstinados e que faziam temer pela
tísica mucosa, os inchamentos das
glândulas, diarréias, vômitos convulsivos, doenças dos olhos.
Os efeitos do magnetismo não são menos surpreendentes
nas deformidades do tórax e de outros produzidos pelo raquitismo. Eu vi uma criança
em que um desvio bastante considerável da espinha dorsal diminuiu de duas a
três polegadas durante um tratamento de cerca de três meses.
Nas dores de cabeça, nas enxaquecas, nas hidrocefalias,
na surdez, eu observei crises notáveis pelas secreções e escorrimentos nas orelhas,
nos olhos, no nariz e mesmo pela salivação.
Na França, o magnetismo operou com o mesmo sucesso
e com a mesma rapidez sobre as crianças.
Uma menina de dezoito meses, diz Deleuze (1825)
tinha um terçol que lhe fazia mal. Seu pai a
colocou sobre seus joelhos; ela a magnetizou colocando-lhe
a mão sobre os olhos; a criança logo adormeceu. Uma hora depois ela se acordou
e o terçol havia desaparecido.
A Sra. *** em Châlons-sur-Marne tinha um filho de
seis anos cujos intestinos eram tão relaxados que ele se sujava todas as
noites. Tinha-se empregado todos os meios imagináveis para remediar esta
enfermidade; enfim, sua mãe tomou a tarefa de magnetizá-lo.
Na primeira vez o magnetismo produziu uma evacuação
extraordinária; na segunda vez houve ainda um movimento, mas na terceira vez a criança
foi curada.
Conheci uma jovem de doze anos cujas vértebras lombares
formavam uma saliência considerável; um respeitável eclesiástico, com quem ela
havia feito sua primeira comunhão, aconselhou sua mãe a magnetizá-la e se
encarregou de dirigir o tratamento. Em quinze dias as vértebras retornaram a
posição que elas deviam ter.
Conforme diz Bruno, como não admirar esta providência
adorável que coloca o remédio ao lado do mal, põe entre as mãos de cada um dos membros
de uma família os meios de curara ou de aliviar os males inevitáveis aos quais
a humanidade está exposta.
Ó mães!! Escutem a natureza, cedam a este instinto
que as levam a abraçar sua criança, a apertá-la docemente contra seu seio;
levem sobre ela sua mão benfeitora; aplique-a por longo tempo em prece pelo
doente sobre as principais vísceras do baixo ventre, sobre o estômago.
Procurem apenas nas preces o socorro que possa ajudá-las
em sua ação. Rejeitem com horror estes venenos que, se não matam sua criança
alterarão sensivelmente as partes ainda sensíveis de sua organização.
AUBIN
GAUTHIER
Jornal Vortice
ANO III, n.º 01, junho/2010.
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