O MAGNETISMO E O ESPIRITISMO COMPARADOS.
(Sociedade de Paris, 17 de maio de 1867, méd, Sr. Desliens.)
PALAVRAS do
Codificador
Revista
Espírita, junho de 1867
"Quando
vivo, ocupei-me da prática do magnetismo do ponto de vista exclusivamente material;
pelo menos, assim eu o acreditava; sei hoje que a elevação voluntária ou involuntária
da alma que faz desejar a cura do doente, é uma verdadeira magnetização espiritual.
"A
cura prende-se a causas excessivamente variáveis: Tal doença, tratada de tal
maneira, cede diante da força de ação material; tal outra, que é idêntica, mas menos
acentuada, não sofre nenhuma espécie de melhora, se bem que os meios curativos
empregados sejam talvez mais poderosos ainda. A que se prendem, pois, essas
variações de influências? - A uma causa ignorada da maioria dos magnetizadores
que não atacam senão os princípios mórbidos materiais; elas são a conseqüência
da situação moral do indivíduo.
"A
doença material é um efeito; para destruir este efeito, não basta atacá-lo,
tomá-lo corpo a corpo e aniquilá-lo; a causa existindo sempre, reproduzirá de
novo efeitos mórbidos enquanto a ação curativa estiver longe.
"O
fluido transmissor da saúde no magnetizador é um intermediário entre a matéria
e a parte espiritual do ser, e que se poderia comparar ao perispírito. Ele une
dois corpos um ao outro; é um ponto sobre o qual passam os elementos que devem
levar a cura nos órgãos doentes.
Sendo um
intermediário entre o Espírito e a matéria, em consequência de sua constituição
molecular, esse fluido pode transmitir tão bem uma influência espiritual quanto
uma influência puramente animal.
"Em
definitivo, o que é o Espiritismo, ou antes, o que é a mediunidade, esta
faculdade incompreendida até aqui, e cuja extensão considerável estabeleceu
sobre bases incontestáveis os princípios fundamentais da nova revelação? É puramente
e simplesmente uma variedade da ação magnética exercida por um ou por vários magnetizadores
desencarnados, sobre um sujeito humano agindo no estado de vigília ou no estado
extático, conscientemente ou inconscientemente.
"O que
é, de outra parte, o magnetismo? Uma variedade do Espiritismo na qual os
Espíritos encarnados agem sobre outros Espíritos encarnados.
"Existe,
enfim, uma terceira variedade do magnetismo ou do Espiritismo, segundo se o tome
por ponto de partida da ação de encarnados sobre desencarnados, ou a de Espíritos
relativamente livres sobre Espíritos aprisionados num corpo; essa terceira variedade,
que tem por princípio a ação dos encarnados sobre os Espíritos, se revela no tratamento
e na moralização dos Espíritos obsessores.
"O
Espiritismo não é, pois, senão do magnetismo espiritual, e o magnetismo não é outra
coisa senão do Espiritismo humano.
"Com
efeito, como procede o magnetizador que quer submeter à sua influência um
sujeito sonambúlico? Ele o envolve com o seu fluido; o possui numa certa
medida, e, notai-o, sem jamais chegar a aniquilar seu livre arbítrio, sem poder
dele fazer sua coisa, um instrumento puramente passivo.
Frequentemente
o magnetizado resiste à influência do magnetizador e age num sentido quando
este desejaria que a ação fosse diametralmente oposta. Embora geralmente o
sonâmbulo esteja adormecido, e que o seu próprio Espírito age enquanto seu
corpo permanece mais ou menos inerte, ocorre também, porém mais raramente, que o
sujeito simplesmente fascinado, iluminado, permanece num estado de vigília, se bem
que com uma maior tensão de espírito e uma exaltação desabituada de suas
faculdades.
"E
agora, como procede o Espírito que deseja se comunicar? Ele envolve o médium
com seu fluido; ele o possui numa certa medida, sem jamais chegar a dele fazer
sua coisa, um instrumento puramente passivo. Vós me objetareis talvez que, nos
casos de obsessão, de possessão, a aniquilação do livre arbítrio parece ser
completa. Haveria muito a dizer sobre esta questão, porque a ação anulatória pesa
mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito que pode se
encontrar paralisado, abatido e na impossibilidade de resistir, mas cujo pensamento
jamais está aniquilado, assim como se pode notá-lo em muitas ocasiões. Eu acho
no próprio fato da obsessão uma confirmação, uma prova em apoio de minha teoria,
lembrando que a obsessão se exerce também de encarnado a encarnado, e que se
viram magnetizadores se aproveitarem do domínio que exerciam para fazer seus sonâmbulos
cometerem ações censuráveis. Aqui como sempre, a exceção confirma a regra.
Se bem que,
geralmente, o sujeito medianímico esteja desperto, em certos casos, que se
tomam cada vez mais frequentes, o sonambulismo espontâneo se declara no médium,
e ele fala por si mesmo ou por sugestão absolutamente, como o sonâmbulo magnético
se conduz nas mesmas circunstâncias.
"Enfim,
como procedeis com relação aos Espíritos obsessores, ou simplesmente inferiores,
que desejais moralizar?
Agis sobre
eles por atração fluídica; vós os magnetizais, inconscientemente o mais frequentemente,
para retê-los em vosso círculo de ação; conscientemente algumas vezes, quando
estabeleceis ao redor deles uma toalha fluídica que não podem penetrar sem a vossa
permissão, e agis sobre eles pela força moral que não é outra do que uma ação magnética
quintessenciada.
"Como
se vos disse muitas vezes, não há lacunas na obra da Natureza, não há saltos bruscos,
mas transições insensíveis que fazem que se passe, pouco a pouco, de um estado
a um outro, sem se aperceber da mudança de outro modo do que pela consciência de
uma situação melhor.
"O
magnetismo é, pois, um grau inferior do Espiritismo, e que se confunde
insensivelmente com este último por uma série de variedades, diferindo pouco um
do outro, como o animal é um estado superior da planta, etc. Num como nooutro,
são dois degraus da escala infinita que liga todas as criações, desde o ínfimo
átomo até Deus criador! Acima de vós está a luz ofuscante que vossos fracos olhos
não podem ainda suportar; abaixo, estão as trevas profundas que vossos mais poderosos
instrumentos de ótica não puderam ainda esclarecer. Ontem, nada sabíeis; hoje,
vedes o abismo profundo no qual se perde a vossa origem. Pressentis o objetivo infinitamente
perfeito para o qual tendem todas as vossas aspirações; e a quem deveis todos esses
conhecimentos? ao magnetismo! ao Espiritismo, a todas as revelações que
decorrem de uma lei de relação universal entre todos os seres e seu criador! a
uma ciência eclodida ontem por vossa concepção, mas cuja existência se perde na
noite dos tempos, porque ela é uma das bases fundamentais da criação.
"De
tudo isto, concluo que o magnetismo, desenvolvido pelo Espiritismo, é a chave
de abóbada da saúde moral e material da humanidade futura.
"E. QUINEMANT."
Nota. A
justeza das apreciações e as profundezas do novo ponto de vista que esta
comunicação encerra, não escaparão a ninguém. O Sr. Quinemant, embora partido
depois de bem pouco tempo, se revela desde o início, e sem a menor hesitação, como
um Espírito de uma incontestável superioridade.
Apenas
liberto da matéria, que não parece ter deixado sobre ele nenhum traço, desdobra
as suas faculdades com uma força notável, que promete a seus irmãos da Terra um
bom conselheiro a mais.
Aqueles que
pretendiam que o Espiritismo se arrastava na rotina dos lugares comuns e das banalidades,
podem ver, pelas questões que ele aborda há algum tempo, se está estacionário,
e o verão melhor ainda, à medida que lhes forem permitido desenvolver suas conseqüências.
No entanto, ele não ensina, propriamente falando, nada de novo; estudando-se
com cuidado seus princípios constitutivos fundamentais, ver-se-á que encerram
os germes de tudo; mas esses germes não podem se desenvolver senão gradualmente;
se todos não florescem ao mesmo tempo, é que a extensão do círculo de suas
atribuições não depende da vontade dos homens, mas da dos Espíritos, que
regulam o grau de seu ensino sobre a oportunidade. É em vão que os homens
gostariam de antecipar no tempo; eles não podem constranger a vontade dos Espíritos
que agem segundo as inspirações superiores, e não se deixam ir pela impaciência
dos encarnados; eles sabem, se for preciso, tomar essa impaciência estéril.
Deixai-os, pois, agir; fortaleçamo-nos naquilo que nos ensinam, e estejamos certos
que saberão fazer dar, em tempo útil, pelo Espiritismo, o que devem dar.
Jornal Vórtice
ANO II, n.º 08, janeiro/2010
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