Uma panorâmica dolorosa sobre o que estão e estamos fazendo com a união entre o Espiritismo e o Magnetismo.
Por Jacob Melo (agosto 2011)
Como sempre curti o hábito de
ler, apesar de ultimamente fazer isso muito aquem do mínimo desejável, termino
anotando, guardando e até memorizando algumas frases e pensamentos iluminados e
ricos, os quais expressam verdades que para muitos nem uma vida inteira
preenchem o registro.
Tenho lido muitas citações que
parecem confirmar um ditado atribuído a Paulo Coelho: o de que o Universo
conspira a nosso favor.
Vejam que coisa poética,
filosófica, simples e profunda – e nem sei quem é o autor; se alguém souber,
por favor, me avise, tá? – está nesta frase: "Somente os que voam podem entender com
clareza porque os pássaros cantam."
E da mesma maneira que leio,
noto e anoto, não são poucas as vezes que me vem o desejo de ampliar, de
acrescentar, de incluir a ideia nalgum trabalho ou escrito meu. Com esta frase
não seria diferente; lendo-a logo penso: E como ficam os que não tiram os pés
do chão, os que não rompem as algemas da alma? Será que ao menos conseguem
cantar?
O universo me trouxe essa
frase para que eu tivesse um bom paralelo para escrever este segundo artigo.
Nesses dias em que me sinto no
meio de uma verdadeira onda de necessidade de pensar mais, conhecer mais e
expor com mais e melhor segurança, onde os sons audíveis não chegam a compor
ritmo, cadência ou melodia harmoniosa, fico sem saber se não entendo o que
essas aves estão cantando, se esses cantos são assim porque essas aves não voam
ou se sou eu quem está mesmo precisando alçar algum tipo diferente de mergulho
no espaço para conseguir entender as razões de tanta desafinação.
Alguém, que sai falando em
nome do Espiritismo, chamando os que lhe escutam o verbo para o sentido da
caridade que ergue, levanta e redime, apresentando-se como lídimo locutor das
Verdades Maiores que os Espíritos nos trouxeram através de Allan Kardec, dizem,
repetem, insistem e batem firme na tecla “Espiritismo não é Magnetismo” e que
“o Magnetismo é invenção das trevas”, certamente ou não voa ainda, não sabe
cantar ou acredita que é porta-voz melodiosa da superioridade sem que sequer
tenha se dado conta do que a base da obra lhe diz. Pois que o Magnetismo é
bênção Divina diretamente doada aos seres, todos os seres, onde o que chamamos
vida nada mais é do que a mais cristalina exuberância do Magnetismo em nós, em
cada um de nós. E esse mesmo magnetismo, transitando de uns para os outros, nos
permite não apenas viver, mas permutar vida, transmutar bênçãos, alimentar a
alma, dar lenitivo aos doentes e preservar a saúde dos que a possuem. Esse
magnetismo sim, esse de que estão cantando de forma destoante e descompassada,
é o grande vínculo que todos os Maiores, de todos os tempos, lugares,
filosofias e religiões, vêm ensinando e distribuindo como o mais eficiente meio
do homem servir a Deus pelo próprio homem, dando alimento às ações da vontade,
da fé, do amor, da caridade enfim.
Pois na estreiteza de acordes
plangidos no instrumento onde faltam cordas e afinações, rouba-se a sinfonia da
caridade, impõe-se o verbo devastador da inclemência, estabelecem-se os ruídos
dos bumbos que impulsionam gravidade no dizer, mas que não se enquadram nos
propósitos de servir sem etiquetas, sem máscaras de hipocrisias, sem a
honestidade da ave altaneira e feliz.
O que será que você está
pensando enquanto me lê?! Do que será que estou falando?
Estes momentos, que não são os
de transição planetária, mas os de reflexão sobre o que dizemos, sabemos,
fazemos e divulgamos, são graves, muito graves. Pois quando alguém, sem maiores
bases, diz absurdos, isso logo perde o sentido; mas quando outros dizem coisas
estranhas, em nome de uma verdade que afirmam conhecer, e que seus dizeres
conflitam com tudo o que dizem defender, isso se demora no mundo íntimo de
multidões, consumindo, por vezes, encarnações para que seja reparado. Mas...
Quem está pensando nisso seriamente quando, sem qualquer reflexão mais honesta,
diz o que diz sem medir-lhe sequer as consequências imediatas?
Recentemente, mais exatamente
no domingo dia 14 de agosto deste ano de 2011, destacado palestrante, sem
qualquer titubeio de sua parte, para uma platéia que ainda não tinha entendido
nem absorvido a detonação de todo um trabalho de assistência magnética e
espírita que vinha sendo prestado naquela mesma Casa, com elevado nível de
qualidade, a pessoas portadoras de graves problemas de saúde físicos, psíquicos
e até espirituais, afirmou: “... tomamos o passe acreditando que isso vai fazer
algum efeito. A pessoa pode tomar passe com ciclano, fulano e beltrano e se a
criatura não se modifica por dentro não vai ficar boa é nunca!”. Nossa!!! Então
não é só o Magnetismo que está comprometido e sim toda a estrutura de
atendimento ao próximo, pois como não sabemos se a quem atendemos a pessoa irá,
de fato, modificar-se por dentro, então ela não ficará boa nunca! E pensar que
deveríamos ser mais caridosos do que a Medicina. Graças a Deus, entretanto,
esta não pensa nem age assim, por isso mesmo, cura a tantos quantos possa curar
e Deus, em sua infinita misericórdia, corrobora para que as curas se restabeleçam
e vivam, pois que “Ele faz se levante o sol sobre os maus e os bons e faz
chover sobre os justos e os injustos” (Mateus, 5, 45).
E aquele moço continuou
dizendo em sua palestra: “Então a criatura recebe milhões de passes, porque
está em moda... O Espiritismo... Ao lermos é o movimento espírita que sempre
foi assim. O modismo de cada época... são forças das trevas que vêm para poder
dividir as massas, para perdermos o sentido: qual é o objetivo do Espiritismo.
É uma superficialização das propostas espíritas”. Com isso somos levados a crer
que a profundidade do Espiritismo, segudo ele, não tem espaço para o
atendimento por passes aos seres que buscam a Casa Espírita, já que isso é um
movimento das trevas. Trevas essas que devem ter começado na base, pois,
conforme escrevo mais abaixo, foi o próprio Allan Kardec e os Espíritos que
lhes responderam afirmando ser o Magnetismo a mesma ciência que o Espiritismo.
Ora, se o Espiritismo é ciência e aprofundá-lo por esse ramo é ficar
superficializando e ainda ser considerado como trabalho trevoso, então, o que
seria o aprofundamento da Doutrina?
Contudo, uma palestra de mais
de uma hora não nos reservou apenas esse sibilar; infelizmente, teve mais.
Muito mais... “Aplicamos e recebemos milhões de passes, escutamos milhões de
palestras, lemos e não nos modificamos interiormente. Podem fazer a reunião
mediúnica que for, tendo Chico Xavier como doutrinador e Divaldo Franco como
médium do Espírito; o Espírito vem, fala pelo Divaldo e o Chico doutrina: tem
que amar, tem que perdoar; e ele, pelas cargas fluídicas dessas duas criaturas
bondosas, decide se libertar, decide deixar o outro, mas como o outro não se
modificou aproxima-se outro Espírito e continua a obsessão. Por isso que
ninguém de fora arranca o nosso problema. A palestra, o estudo e a ação no bem
é que nos liberta paulatinamente. Mas há esse modismo: vou lá pra receber o
tratamento; tratar o quê?! Aí vamos mantendo a nossa ignorânica, não escutamos
nada e como não escutamos nada o Espírito tem como nos manipular, porque o
conhecimento nos liberta das garras do Espírito”. – Será que o palestrante acha
mesmo que os doentes não escutam ninguém, não estudam nada e não merecem ajudas
ou melhorias? Será então que não tem valia nem mesmo palestras, leituras, reuniões
de desobsessão ou qualquer esforço para ajudar o próximo? Será que esta
“canção” foi mesmo composta ou ao menos inspirada por Jesus e Kardec? E a
“coisa” é forte mesmo, pois até Chico Xavier e Divaldo foram inseridos no
exemplo e, nem assim, a solução para o doente parece viável. Todavia, ao
contrário disso, Kardec, quando trata da subjugação em O Livro dos Médiuns,
fala da falta de força fluídica do doente e recomenda a presença de um bom
magnetizador que muito ajudará no processo. Será que ele(s) sabe(m) disso?
Mas, façamos justiça ao
palestrante. Aos 45 minutos de sua exposição ele encontrou uma boa solução. “Na
escola espírita eu vou aprender a amar-me da forma correta. E aí realizará em
mim esse aspecto hospitalar. Depois da palestra, renovado, aí sim o passe terá
todo outro significado, porque será um complemento das minhas ideias já
transformadas, aliás, nem precisa tomar, porque, escutando a palestra,
renovando a nossa mente, essa é a proposta. A água fluidificada, os Espíritos,
sendo a molécula da água bem moldável, colocarão ali os remédios necessários,
mas aquele remédio eu tenho que estar em sintonia para melhorar-me”. – É
complexo. Sobre o passe ele fica no vai e vem. Momentos há em que é bom, mas
depois já não é, para logo depois nem mais precisar. A água fluidificada, pelo
que ele disse, assim o é pelos Espíritos, enquanto Kardec disse o contrário,
que é o homem quem magnetiza (O Livro dos Médins,capítulo 8, item 131).
Contudo, em seu conceito, a palestra deve renovar. Renovar como? Com um discurso
confuso, contraditório, descaridoso e altamente desmotivador? Uma palestra que
diz que não adianta nada se você não se modificar? Sim, todos precisamos nos
modificar, melhorar, aperfeiçoar... E em que o Magnetismo se opõe a isso? Em
que ajudar uma pessoa a vencer suas dores e seus limites pode prendê-la ainda
mais em suas imperfeições? Outro detalhe: será mesmo que todas as dores e
doenças que sofremos é apenas porque não sabemos a razão ou por conta dos
obsessores? Então, por que motivos Kardec estudou as causas atuais e passadas
das aflições?
E nessa palestra, que ele deve
ter feito pensando fazer um grande bem para os que o ouviam, chegando ao seu
epílogo ainda sugeriu: “Não vão atrás dos supersticiosos que querem promover-se
a si mesmos, de curandeiros e curadores que não curam nem a si mesmos, estão a
serviço das trevas para poder superficializar o movimento espírita que tem por
proposta a renovação moral do indivídiuo, o revivamento do Evangelho de Jesus
Cristo, esta é a proposta do Espiritismo”. – Lógico que ele está falando de
espíritas, pois não vemos curandeiros querendo desnaturar a Doutrina Espírita;
vemos trabalhadores procurando realizar suas tarefas com consciência, respeito
e responsabilidade, cujos exemplos incomodam muito por chamarem ao labor
aqueles que preferem apenas ditar normas. Ao contrário do que é dito por quem
como ele pensa, na falácia de uma pretensa defesa de pureza doutrinária,
acusa-se de elementos das trevas aqueles que se doam, em espírito e verdade,
sem buscar quaisquer tipos de reconhecimentos que não seja o prazer interior de
servir indistintamente, em nome sim desse Senhor, de Jesus, da Vida, de Deus.
Meus Deus! Que cântico é esse
que ele entoa? Que música é essa? Que vôos tem realizado essa alma?
Mas o cenário daquele cantar
não era uma floresta, nada tinha de bucólico nem de necessariamente livre. Um
salão, com tudo para estar bem iluminado, com todos os aparatos para deixar em
grande destaque qualquer grandiosa canção de vida, de amor, de fraternidade e
Evangelho, tinha afixado em sua porta um comunicado frio e distante das
propostas espíritas, cristãs, humanas... “A diretoria (da casa tal) informa que
o Tratamento Magnético foi definitivamente encerrado e não mais será realizado
nesta instituição a partir da data deste comunicado...”.
Creio que qualquer um de nós
imediatamente se perguntaria: e o que será feito dos que estavam sendo
atendidos? Terão sido ao menos informados da decisão? Foram-lhes oferecidas
indicações, opções ou encaminhamentos para que seguissem com os tratamentos? Se
essa diretoria afirma, no mesmo comunicado, que “Entendemos que a principal
proposta da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec é a vivência
do Evangelho de Jesus Cristo” (grifos originais), onde esse Evangelho foi
aplicado em relação e em socorro aos assistidos por aquela atividade?
Fechando-lhes as portas, impedindo-lhes que continuassem auferindo as vitórias
reais que vinham conquistando em suas vidas, tanto física, como fluídica e
espiritualmente? Será isso mesmo a vivência do Evangelho de Jesus Cristo?
Isso tudo soa como uma
inconsistência harmônica das maiores, pois que a partitura reza um acorde e o
instrumentista resolve seguir aquele outro que o maestro não pediu.
Um comunicado que diz “O
maior objetivo do (centro espírita em foco) é facilitar a transformação moral
do homem, promovendo o estudo, a difusão e a prática da Doutrina Espírita” e
age fechando as portas e não se importando com o que poderá advir de prejuízos
para os seres em busca do progresso, não pode estar cantando o hino que diz
ensinar. Tanto que, no mesmo momento em que os atendimentos magnéticos foram
cancelados, embora o comunicado tenha se limitado a falar desse feito,
igualmente foram cortados outros trabalhos, nitidamente espíritas, como a
reunião de Estudo de O Livro dos Espíritos em outro idioma e a reunião de
estudo e desenvolvimento da mediunidade.
E o comunicado ainda nos
reserva seu eloquente desfecho, como se fosse um grand finalle de
espetacular ópera: “Dessa forma, continuaremos normalmente com as demais
atividades que verdadeiramente prezam pela pureza doutrinária e que realmente
contribuam para que esses objetivos de progresso e de transformação moral
possam ser alcançados”.
Oh, Deus! Quanta empáfia!
Descumpre-se o mais comezinho sentido do respeito e da fraternidade ao próximo
e se arvora no direito de se postular como defensor de uma pureza que sequer
chegou a perceber-lhe a raiz. Sim, a raiz, pois o Magnetismo é a base do
Espiritismo ( leia-se ou releia-se o precioso artigo da lavra do senhor Allan
Kardec na Revista Espírita, edição março-1858, intitulado “Magnetismo e
Espiritismo” ); ele, o Magnetismo, é a mesma ciência espírita (conforme O Livro
dos Espíritos, na questão 555) e ele continuou sendo gêmeo e indispensável ao
Espiritismo assim como o são os pares a física e a química, a anatomia e a
fisiologia (conforme anotado por Kardec há dois meses de sua desencarnação, na
Revista Espírita de janeiro de 1869, evidenciando que em momento algum ele
duvidou de que os vínculos entre as duas ciências eram fundamentais).
Que pureza é essa que rouba os
acordes perfeitos que embelezam a sinfonia universal, dando-lhe sentido, razão,
lógica, sentimento e possibilidades infinitas de entoar singelas e verdadeiras
melodias de Vida?!
Continuarei neste assunto.
Ainda temos muito o que refletir. Espero, de coração, que estejamos voando alto
e serenos, para não apenas entendermos os cantos das aves, mas igualmente
aprendermos a fazer e participar de um coro harmonioso com o Bem, com a Vida.
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