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terça-feira, 5 de junho de 2012

Analisando o Atual Momento Espirita - Parte 2



Uma panorâmica dolorosa sobre o que estão e estamos fazendo com a união entre o Espiritismo e o Magnetismo.
Por Jacob Melo (agosto 2011)

Como sempre curti o hábito de ler, apesar de ultimamente fazer isso muito aquem do mínimo desejável, termino anotando, guardando e até memorizando algumas frases e pensamentos iluminados e ricos, os quais expressam verdades que para muitos nem uma vida inteira preenchem o registro.

Tenho lido muitas citações que parecem confirmar um ditado atribuído a Paulo Coelho: o de que o Universo conspira a nosso favor.

Vejam que coisa poética, filosófica, simples e profunda – e nem sei quem é o autor; se alguém souber, por favor, me avise, tá? – está nesta frase: "Somente os que voam podem entender com clareza porque os pássaros cantam."

E da mesma maneira que leio, noto e anoto, não são poucas as vezes que me vem o desejo de ampliar, de acrescentar, de incluir a ideia nalgum trabalho ou escrito meu. Com esta frase não seria diferente; lendo-a logo penso: E como ficam os que não tiram os pés do chão, os que não rompem as algemas da alma? Será que ao menos conseguem cantar?

O universo me trouxe essa frase para que eu tivesse um bom paralelo para escrever este segundo artigo.

Nesses dias em que me sinto no meio de uma verdadeira onda de necessidade de pensar mais, conhecer mais e expor com mais e melhor segurança, onde os sons audíveis não chegam a compor ritmo, cadência ou melodia harmoniosa, fico sem saber se não entendo o que essas aves estão cantando, se esses cantos são assim porque essas aves não voam ou se sou eu quem está mesmo precisando alçar algum tipo diferente de mergulho no espaço para conseguir entender as razões de tanta desafinação.

Alguém, que sai falando em nome do Espiritismo, chamando os que lhe escutam o verbo para o sentido da caridade que ergue, levanta e redime, apresentando-se como lídimo locutor das Verdades Maiores que os Espíritos nos trouxeram através de Allan Kardec, dizem, repetem, insistem e batem firme na tecla “Espiritismo não é Magnetismo” e que “o Magnetismo é invenção das trevas”, certamente ou não voa ainda, não sabe cantar ou acredita que é porta-voz melodiosa da superioridade sem que sequer tenha se dado conta do que a base da obra lhe diz. Pois que o Magnetismo é bênção Divina diretamente doada aos seres, todos os seres, onde o que chamamos vida nada mais é do que a mais cristalina exuberância do Magnetismo em nós, em cada um de nós. E esse mesmo magnetismo, transitando de uns para os outros, nos permite não apenas viver, mas permutar vida, transmutar bênçãos, alimentar a alma, dar lenitivo aos doentes e preservar a saúde dos que a possuem. Esse magnetismo sim, esse de que estão cantando de forma destoante e descompassada, é o grande vínculo que todos os Maiores, de todos os tempos, lugares, filosofias e religiões, vêm ensinando e distribuindo como o mais eficiente meio do homem servir a Deus pelo próprio homem, dando alimento às ações da vontade, da fé, do amor, da caridade enfim.

Pois na estreiteza de acordes plangidos no instrumento onde faltam cordas e afinações, rouba-se a sinfonia da caridade, impõe-se o verbo devastador da inclemência, estabelecem-se os ruídos dos bumbos que impulsionam gravidade no dizer, mas que não se enquadram nos propósitos de servir sem etiquetas, sem máscaras de hipocrisias, sem a honestidade da ave altaneira e feliz.

O que será que você está pensando enquanto me lê?! Do que será que estou falando?

Estes momentos, que não são os de transição planetária, mas os de reflexão sobre o que dizemos, sabemos, fazemos e divulgamos, são graves, muito graves. Pois quando alguém, sem maiores bases, diz absurdos, isso logo perde o sentido; mas quando outros dizem coisas estranhas, em nome de uma verdade que afirmam conhecer, e que seus dizeres conflitam com tudo o que dizem defender, isso se demora no mundo íntimo de multidões, consumindo, por vezes, encarnações para que seja reparado. Mas... Quem está pensando nisso seriamente quando, sem qualquer reflexão mais honesta, diz o que diz sem medir-lhe sequer as consequências imediatas?

Recentemente, mais exatamente no domingo dia 14 de agosto deste ano de 2011, destacado palestrante, sem qualquer titubeio de sua parte, para uma platéia que ainda não tinha entendido nem absorvido a detonação de todo um trabalho de assistência magnética e espírita que vinha sendo prestado naquela mesma Casa, com elevado nível de qualidade, a pessoas portadoras de graves problemas de saúde físicos, psíquicos e até espirituais, afirmou: “... tomamos o passe acreditando que isso vai fazer algum efeito. A pessoa pode tomar passe com ciclano, fulano e beltrano e se a criatura não se modifica por dentro não vai ficar boa é nunca!”. Nossa!!! Então não é só o Magnetismo que está comprometido e sim toda a estrutura de atendimento ao próximo, pois como não sabemos se a quem atendemos a pessoa irá, de fato, modificar-se por dentro, então ela não ficará boa nunca! E pensar que deveríamos ser mais caridosos do que a Medicina. Graças a Deus, entretanto, esta não pensa nem age assim, por isso mesmo, cura a tantos quantos possa curar e Deus, em sua infinita misericórdia, corrobora para que as curas se restabeleçam e vivam, pois que “Ele faz se levante o sol sobre os maus e os bons e faz chover sobre os justos e os injustos” (Mateus, 5, 45).

E aquele moço continuou dizendo em sua palestra: “Então a criatura recebe milhões de passes, porque está em moda... O Espiritismo... Ao lermos é o movimento espírita que sempre foi assim. O modismo de cada época... são forças das trevas que vêm para poder dividir as massas, para perdermos o sentido: qual é o objetivo do Espiritismo. É uma superficialização das propostas espíritas”. Com isso somos levados a crer que a profundidade do Espiritismo, segudo ele, não tem espaço para o atendimento por passes aos seres que buscam a Casa Espírita, já que isso é um movimento das trevas. Trevas essas que devem ter começado na base, pois, conforme escrevo mais abaixo, foi o próprio Allan Kardec e os Espíritos que lhes responderam afirmando ser o Magnetismo a mesma ciência que o Espiritismo. Ora, se o Espiritismo é ciência e aprofundá-lo por esse ramo é ficar superficializando e ainda ser considerado como trabalho trevoso, então, o que seria o aprofundamento da Doutrina?

Contudo, uma palestra de mais de uma hora não nos reservou apenas esse sibilar; infelizmente, teve mais. Muito mais... “Aplicamos e recebemos milhões de passes, escutamos milhões de palestras, lemos e não nos modificamos interiormente. Podem fazer a reunião mediúnica que for, tendo Chico Xavier como doutrinador e Divaldo Franco como médium do Espírito; o Espírito vem, fala pelo Divaldo e o Chico doutrina: tem que amar, tem que perdoar; e ele, pelas cargas fluídicas dessas duas criaturas bondosas, decide se libertar, decide deixar o outro, mas como o outro não se modificou aproxima-se outro Espírito e continua a obsessão. Por isso que ninguém de fora arranca o nosso problema. A palestra, o estudo e a ação no bem é que nos liberta paulatinamente. Mas há esse modismo: vou lá pra receber o tratamento; tratar o quê?! Aí vamos mantendo a nossa ignorânica, não escutamos nada e como não escutamos nada o Espírito tem como nos manipular, porque o conhecimento nos liberta das garras do Espírito”. – Será que o palestrante acha mesmo que os doentes não escutam ninguém, não estudam nada e não merecem ajudas ou melhorias? Será então que não tem valia nem mesmo palestras, leituras, reuniões de desobsessão ou qualquer esforço para ajudar o próximo? Será que esta “canção” foi mesmo composta ou ao menos inspirada por Jesus e Kardec? E a “coisa” é forte mesmo, pois até Chico Xavier e Divaldo foram inseridos no exemplo e, nem assim, a solução para o doente parece viável. Todavia, ao contrário disso, Kardec, quando trata da subjugação em O Livro dos Médiuns, fala da falta de força fluídica do doente e recomenda a presença de um bom magnetizador que muito ajudará no processo. Será que ele(s) sabe(m) disso?

Mas, façamos justiça ao palestrante. Aos 45 minutos de sua exposição ele encontrou uma boa solução. “Na escola espírita eu vou aprender a amar-me da forma correta. E aí realizará em mim esse aspecto hospitalar. Depois da palestra, renovado, aí sim o passe terá todo outro significado, porque será um complemento das minhas ideias já transformadas, aliás, nem precisa tomar, porque, escutando a palestra, renovando a nossa mente, essa é a proposta. A água fluidificada, os Espíritos, sendo a molécula da água bem moldável, colocarão ali os remédios necessários, mas aquele remédio eu tenho que estar em sintonia para melhorar-me”. – É complexo. Sobre o passe ele fica no vai e vem. Momentos há em que é bom, mas depois já não é, para logo depois nem mais precisar. A água fluidificada, pelo que ele disse, assim o é pelos Espíritos, enquanto Kardec disse o contrário, que é o homem quem magnetiza (O Livro dos Médins,capítulo 8, item 131). Contudo, em seu conceito, a palestra deve renovar. Renovar como? Com um discurso confuso, contraditório, descaridoso e altamente desmotivador? Uma palestra que diz que não adianta nada se você não se modificar? Sim, todos precisamos nos modificar, melhorar, aperfeiçoar... E em que o Magnetismo se opõe a isso? Em que ajudar uma pessoa a vencer suas dores e seus limites pode prendê-la ainda mais em suas imperfeições? Outro detalhe: será mesmo que todas as dores e doenças que sofremos é apenas porque não sabemos a razão ou por conta dos obsessores? Então, por que motivos Kardec estudou as causas atuais e passadas das aflições?

E nessa palestra, que ele deve ter feito pensando fazer um grande bem para os que o ouviam, chegando ao seu epílogo ainda sugeriu: “Não vão atrás dos supersticiosos que querem promover-se a si mesmos, de curandeiros e curadores que não curam nem a si mesmos, estão a serviço das trevas para poder superficializar o movimento espírita que tem por proposta a renovação moral do indivídiuo, o revivamento do Evangelho de Jesus Cristo, esta é a proposta do Espiritismo”. – Lógico que ele está falando de espíritas, pois não vemos curandeiros querendo desnaturar a Doutrina Espírita; vemos trabalhadores procurando realizar suas tarefas com consciência, respeito e responsabilidade, cujos exemplos incomodam muito por chamarem ao labor aqueles que preferem apenas ditar normas. Ao contrário do que é dito por quem como ele pensa, na falácia de uma pretensa defesa de pureza doutrinária, acusa-se de elementos das trevas aqueles que se doam, em espírito e verdade, sem buscar quaisquer tipos de reconhecimentos que não seja o prazer interior de servir indistintamente, em nome sim desse Senhor, de Jesus, da Vida, de Deus.

Meus Deus! Que cântico é esse que ele entoa? Que música é essa? Que vôos tem realizado essa alma?

Mas o cenário daquele cantar não era uma floresta, nada tinha de bucólico nem de necessariamente livre. Um salão, com tudo para estar bem iluminado, com todos os aparatos para deixar em grande destaque qualquer grandiosa canção de vida, de amor, de fraternidade e Evangelho, tinha afixado em sua porta um comunicado frio e distante das propostas espíritas, cristãs, humanas... “A diretoria (da casa tal) informa que o Tratamento Magnético foi definitivamente encerrado e não mais será realizado nesta instituição a partir da data deste comunicado...”.

Creio que qualquer um de nós imediatamente se perguntaria: e o que será feito dos que estavam sendo atendidos? Terão sido ao menos informados da decisão? Foram-lhes oferecidas indicações, opções ou encaminhamentos para que seguissem com os tratamentos? Se essa diretoria afirma, no mesmo comunicado, que “Entendemos que a principal proposta da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec é a vivência do Evangelho de Jesus Cristo” (grifos originais), onde esse Evangelho foi aplicado em relação e em socorro aos assistidos por aquela atividade? Fechando-lhes as portas, impedindo-lhes que continuassem auferindo as vitórias reais que vinham conquistando em suas vidas, tanto física, como fluídica e espiritualmente? Será isso mesmo a vivência do Evangelho de Jesus Cristo?

Isso tudo soa como uma inconsistência harmônica das maiores, pois que a partitura reza um acorde e o instrumentista resolve seguir aquele outro que o maestro não pediu.

Um comunicado que diz  “O maior objetivo do (centro espírita em foco) é facilitar a transformação moral do homem, promovendo o estudo, a difusão e a prática da Doutrina Espírita” e age fechando as portas e não se importando com o que poderá advir de prejuízos para os seres em busca do progresso, não pode estar cantando o hino que diz ensinar. Tanto que, no mesmo momento em que os atendimentos magnéticos foram cancelados, embora o comunicado tenha se limitado a falar desse feito, igualmente foram cortados outros trabalhos, nitidamente espíritas, como a reunião de Estudo de O Livro dos Espíritos em outro idioma e a reunião de estudo e desenvolvimento da mediunidade.

E o comunicado ainda nos reserva seu eloquente desfecho, como se fosse um grand finalle de espetacular ópera: “Dessa forma, continuaremos normalmente com as demais atividades que verdadeiramente prezam pela pureza doutrinária e que realmente contribuam para que esses objetivos de progresso e de transformação moral possam ser alcançados”.

Oh, Deus! Quanta empáfia! Descumpre-se o mais comezinho sentido do respeito e da fraternidade ao próximo e se arvora no direito de se postular como defensor de uma pureza que sequer chegou a perceber-lhe a raiz. Sim, a raiz, pois o Magnetismo é a base do Espiritismo ( leia-se ou releia-se o precioso artigo da lavra do senhor Allan Kardec na Revista Espírita, edição março-1858, intitulado “Magnetismo e Espiritismo” ); ele, o Magnetismo, é a mesma ciência espírita (conforme O Livro dos Espíritos, na questão 555) e ele continuou sendo gêmeo e indispensável ao Espiritismo assim como o são os pares a física e a química, a anatomia e a fisiologia (conforme anotado por Kardec há dois meses de sua desencarnação, na Revista Espírita de janeiro de 1869, evidenciando que em momento algum ele duvidou de que os vínculos entre as duas ciências eram fundamentais).

Que pureza é essa que rouba os acordes perfeitos que embelezam a sinfonia universal, dando-lhe sentido, razão, lógica, sentimento e possibilidades infinitas de entoar singelas e verdadeiras melodias de Vida?!

Continuarei neste assunto. Ainda temos muito o que refletir. Espero, de coração, que estejamos voando alto e serenos, para não apenas entendermos os cantos das aves, mas igualmente aprendermos a fazer e participar de um coro harmonioso com o Bem, com a Vida.

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