Tradução de
Lizarbe Gomes
LIVRO
TERCEIRO DA DIREÇÃO DE UM TRATAMENTO MAGNÉTICO
CAPÍTULO I
PRELIMINAR
DE TODO TRATAMENTO
É
essencial, eu diria mesmo, indispensável fixar as horas das sessões e dizer ao
doente que ela deve ser exata.
Assim
também o magnetizador, pois em caso de sonambulismo a inexatidão traz graves inconvenientes.
Ele irá
considerar os hábitos do doente e do regime que lhe é ordinário; ele fará as modificações
convenientes e recomendará a observação; a cada sessão ou de tempos em tempos,
ele se informará dos resultados.
Ele
prevenirá o doente que ele deve, tanto quanto possível ser assistido pela mesma
testemunha e, sobretudo evitar apresentar como um crente ou homem impassível,
um incrédulo ou um antagonista do magnetismo, explicando-lhe que a presença
deste último poderia anular a ação ou a atenuar. E para que o doente seja
atento a esta recomendação, ele não hesitará em lhe dizer que, em caso de
infração da parte dele, ele será forçado a abandoná-lo.
Tomadas
estas precauções e depois de haver examinado a si mesmo como eu disse anteriormente,
o magnetizador poderá passar ao tratamento.
CAPÍTUL0 II
DOS
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREÇÃO
O fim
invariável de um tratamento magnético é ajudar a natureza sem contrariá-la
jamais. É preciso então apenas magnetizar nos casos úteis e necessários, ou
seja, para aliviar ou curar.
Não se deve
jamais procurar agir sobre a imaginação dos doentes e procurar produzir efeitos
extraordinários; ao contrário, toda a atenção deve ser empregada em fiscalizar
as crises que possa sobrevir e aproveitá-las.
É preciso
ter e conservar uma grande calma e quando uma crise se manifesta, deixar o
doente apenas quando ela tiver terminado e quando ele tiver voltado ao seu
estado normal.
Quaisquer que
sejam as opiniões concebidas sobre a maior ou menor utilidade dos procedimentos
é indispensável fixar-se neles, após a experiência dos outros ou da sua mesmo, afim
de não ter um só momento de medo ou de hesitação, para não embaraçar a si mesmo
e para não perder um tempo precioso procurando quais são os procedimentos mais
convenientes.
Deve-se
empregar as forças gradualmente e não de imediato ao se começar.
É preciso
evitar magnetizar ao sair da mesa e durante o trabalho de digestão; assim como
é bom não estar de jejum, afim de não se cansar ou de esgotar tão rápido.
Nem durante
a doença nem durante a convalescença é preciso magnetizar por tão longo tempo;
as primeiras sessões devem ser de no máximo uma hora, as seguintes de três
quartos de hora à meia hora.
Quase
sempre é interessante tanto para o magnetizador como para o doente, não fazer
mais de duas sessões por dia. De um lado, é preciso dar tempo ao magnetismo
para produzir seus efeitos e, por outro lado, pela mesma razão, o operador se
fatigaria inutilmente.
No entanto,
se é necessário sustentar uma crise, um movimento imprimido, o que acontece às vezes,
obedece-se às circunstâncias seguindo as necessidades do doente e até que a
crise termine.
Tem-se
visto magnetizadores obrigados a sustentar uma crise durante três, quatro,
cinco horas, por vezes por todo o dia e toda uma noite.
Não se deve
começar um tratamento senão se está seguro de poder continuá-lo.
É bastante
perigoso interromper um tratamento iniciado ou de não sustentar uma crise que se
tenha excitado e que a natureza não possa conduzir a seu fim sem ajuda do
magnetismo. Eu falarei disso mais adiante.
CAPÍTULO
III
DA
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS GERAIS AOS CASOS PARTICULARES
Quando se
vê que o magnetismo age, é preciso redobrar a atenção sem perder a calma que se
tenha conservado para esperar seus efeitos; deve-se, sobretudo, evitar fazer
esforços para aumentar aqueles os quais se acabou de obter, se perturbaria
assim a marcha da natureza.
Se a
magnetização colocou o doente num estado que não lhe é o comum, assim como as
dores, os movimentos nervosos, a transpiração, os espasmos ou fortes cólicas e
estes diversos sintomas se renovando durante várias sessões, não é preciso se
preocupar; estes sintomas desaparecerão por si mesmos e às vezes antes do fim
da sessão.
Acontece
por vezes – estes casos são muito raros, mas é bom estar prevenido – que a
primeira impressão do magnetismo produz uma crise acompanhada de movimentos convulsivos,
enrijecimento dos membros, acessos de choro ou de riso; o magnetizador não deve
se assustar ou se inquietar, mas agir em consequência.
Assim ele
se esforçará, através de palavras doces e benevolentes, mas também firmes e
seguras, para inspirar a calma e a segurança ao doente; ele pegará os seus
polegares por um momento e em seguida fará várias fricções longitudinais. Se as
fricções excitam o doente em vez de acalmá-lo, se faz passes à distância;
magnetiza-se em “grandes correntes” e a calma acaba por chegar.
Quando o
caso se apresente por duas vezes seguidas, tomam-se as precauções para a
terceira sessão; contenta-se apenas em pegar os polegares e, relação
estabelecida, se magnetiza por passes longitudinais à distância. O doente permanecendo
calmo, retorna-se pouco a pouco ao lugar que se ocupava e se tenta de novo os procedimentos
necessários até que o doente termine por suportar a ação. (1)
É
necessário não confundir os movimentos convulsivos que duram apenas por um
momento com uma irritação nervosa que continua após a sessão e se prolonga de
uma a outra deixando o magnetizado num estado de contínuo mal-estar.
Quando se
encontra estas pessoas que tem este gênero de suscetibilidade, é preciso usar
com eles os procedimentos mais calmantes e agir de longe.
Se, depois
de três ou quatro sessões, o mesmo efeito acontecer, deve-se colocar um dia de intervalo
nas sessões seguintes; e se, ao fim de oito a dez dias, os mesmos sintomas se apresentem
é preciso cessar, tirando do fato as consequências seguintes: o magnetizador ou
o magnetismo não convém ao doente.
Para se
assegurar, confia-se o doente a um outro magnetizador; se o mesmo fenômeno
ocorre, substitui-se este magnetizador por um outro; pode-se mesmo tentar um
terceiro, após o qual, não havendo mudança, se concluirá que o magnetismo não
convém ao doente.
Finalmente,
quaisquer que sejam as crises que sobrevenham no curso de um tratamento, não se
assuste; se você não se perturbar, se permanecer calmo, nada pode acontecer e
nada de desagradável acontecerá ao doente.
AUBIN GAUTHIER
(1) O Sr.
Deleuze diz sobre o mesmo assunto: “o efeito sobre o qual acabei de falar (uma
crise nervos no início de uma magnetização) é tão raro que o produzi por mim
mesmo somente três ou quatro vezes em uma prática de trinta e cinco anos. Sei
bem que aconteceu várias vezes e que teve consequências desagradáveis. Mas foi
entre pessoas que magnetizavam para fazer experiências, para mostrar os
fenômenos e não com a calma e a única intenção de fazer o bem. Eu teria apenas
cuidado de anotar este efeito se eu já não tivesse visto recentemente um
exemplo do qual vou dar conta para me fazer melhor entender, se bem que esta
obra não seja destinada a relacionar estes fatos. Fui solicitado há alguns dias
a dar uma lição a uma senhora que queria magnetizar sua filha, atingida por uma
doença leve, mas forte e antiga e cuja causa se ignorava. Eu coloquei a mãe ao
meu lado e, para lhe mostrar os procedimentos, magnetizava sua filha que não
experimentou absolutamente nada.
A mãe
disse-me que ela havia sido magnetizada uma vez e que sentiu a necessidade de
fechar os olhos. Eu quis ver se eu agiria sobre ela. Depois de quatro ou cinco
minutos de passes em “grandes correntes” e de aplicação da mão sobre o
estômago, ela exclamou: “Ah! Que sensação agradável!” Um minuto depois ela teve
um movimento convulsivo; os membros se enrijeceram; o pescoço inchou e ela
levantou a cabeça para trás e deu um grito. Eu peguei os polegares; eu lhe
repeti várias vezes com um tom imperativo; “Acalme-se”! Eu me afastei em seguida
para magnetizar em “grandes correntes”; enfim, tentei fazer, sempre à distância,
passes transversais para dispersar o fluido. Então sua expressão mudou, mas sobreveio
um acesso de riso que durou alguns minutos. Tudo se acalmou pouco a pouco; ela
me disse que se achava muito bem. Se eu tivesse chamado alguém para detê-la, se
eu tivesse ficado assustado, se não tivesse acalmado a crise, é provável que a
dama assim magnetizada teria ficado perturbada durante vários dias.”
(Instruções Práticas, 60 a 62)
Jornal
Vórtice ANO II, n.º 10, março/2010
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