A Porta da
Dor
O velho
jargão de que se busca um grupo espírita pelo amor ou pela dor, infelizmente
ainda é real.
As portas
do amor são buscadas por quem procura o conhecimento, por ele mesmo.
É aquela
criatura que pensa e sente o mundo com uma espiritualidade natural, ou seja, é
a pessoa que vislumbra que há mais nesse universo infinito do que pode conceber
a nossa vã filosofia. Então, ela caminha, procura aqui e acolá explicações para
a vida. O que essas pessoas possuem é uma saudável inquietação intelectual. Às
vezes, estão confusas, mas são facilmente acalmadas em grupos de estudo com o
conhecimento da filosofia espírita contida em O Livro dos Espíritos. E, em
geral, ao se encontrarem com ela a abraçam felizes e harmonizados.
Outros,
porém, sequer enxergam essas portas. Trilham os caminhos da dor, chegam como
soldados retornando da guerra, feridos, maltratados, sofridos e, o pior de
tudo, em desespero e ansiosos. O sofrimento é para eles como uma batata quente
nas mãos, e não sabem o que fazer com ele. Correm de um lado a outro, fazem de
tudo um pouco, acedem uma vela para Deus e outro para o diabo, lado a lado, e
na mesma hora.
Trabalhar
nas portas do amor é um bálsamo revigorante. Mas trabalhar nos portais da dor
humana exige muito. Precisamos ter bom conhecimento do Espiritismo e da sua
ferramenta de ação, que é o Magnetismo; precisamos nos apoiar em conhecimentos
científicos especializados, para mais bem aplicá-los. E, acima, de tudo
precisamos compreender a natureza humana e conhecer a nós mesmos.
Lidar com
as feridas, os males e dores, até pode ser simples. Difícil mesmo é ver o
desespero e socorrê-lo. Não aquele desespero que grita e chora a altos brados;
mas, aquele silencioso que rói a alma e desfaz tudo que se pode conquistar de
bom, em qualquer forma de tratamento e/ou atendimento.
Ele vem
recheado com falta de aceitação, com falta de reflexão sobre a vida, com um
acentuado materialismo e hedonismo (tão divulgados em nossa cultura atual), ele
tem pressa. Meu Deus! Como tem pressa. É indisciplinado, credo e descrente ao mesmo
tempo, pede orientação e faz o que bem entende, não escuta. Traz consigo a
ansiedade e a depressão, que ganharão rapidamente grande espaço. É avesso ao
conhecimento. Quer um guia, alguém que lhe diga o que fazer, exige atenção.
Amigos,
esse é o acompanhante invisível de muitas pessoas que buscam as sociedades
espíritas e, em especial, o atendimento magnético. Ele é mil vezes mais difícil
de atender do que um obsessor desencarnado, não tem passe dispersivo que afaste
e corte ligações mentais.
Exige dos
magnetizadores muito diálogo, muita compreensão e paciência, tolerância, e o aprendizado
de suportar a ingratidão (não estou falando do muito obrigado nem do
reconhecimento público, falo da entrega e da confiança com que o atendido
gratifica o magnetizador, tal como o bebê gratifica a mãe largando-se confiante
e alegre em seus braços), e aprendermos que o outro tem direito de errar, que
não existe aprendizado a força para questões da alma, portanto não podemos
interferir que o sofrimento pode ser muito amenizado apenas pela forma
equilibrada com que é visto e vivido, e, que, por fim, não nos cabe socorrer
quem deseja sofrer e tão pouco podemos nos afligir com essa decisão.
O trabalho
na porta da dor necessita grande preparo para lidar com nossas emoções que são
desafiadas por esses comportamentos desesperados e diante dos quais precisamos
manter o equilíbrio tanto emocional quanto mental, enxergando o que de fato faz
a pessoa sofrer, além das suas queixas imediatas.
Se a
compreensão que nos oferece a Doutrina Espírita sobre a condição humana não for
muito firme, poderemos encontrar magnetizadores que não se julgarão jamais
aptos ao trabalho. Faltará autoconhecimento, logo serão carentes de compreensão
do outro e se perderão nos conflitos emocionais aos quais esse trabalho nos
expõe.
As virtudes
do amor ao conhecimento, da disciplina, da perseverança e da confiança, não
necessitam ser aprendidos pelos magnetizadores espíritas apenas para o trabalho
direto, mas para serem vividos e ensinados aos atendidos.
Nas portas
da dor existe a invisível sinalização para a porta do amor, ajudá-los a
enxergá-la e percorrê-la é também nossa tarefa.
Jornal
Vórtice ANO II, n.º 10, março/2010
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