JACOB MELO responde
COMO
PODEMOS INTERPRETAR A FRASE DE JESUS: "A tua fé te curou"?
Coisa
desagradável é tirar pirulito da boca de criança. Mas nem sempre só isso o é.
Entretanto, quantas vezes passamos anos e anos na vida com verdadeiros bombons deliciando
nosso paladar e, um dia, descobrimos um diabetes ou alguma gordurinha
localizada a nos pedir reflexão acerca daquilo que é tão doce, tão delicioso!
Não é que o docinho mude de sabor, mas a forma como nos relacionaremos com ele
precisa mudar.
Muitas
vezes, verdades evangélicas e morais são assimiladas de forma tão singela que
chegam a não pedir maiores reflexões, principalmente quando favorecem às
acomodações. Todavia, quando precisamos de verdades mais eloquentes em nosso
íntimo percebemos ser necessário repensar, revalorizar o que temos acrisolado.
Sempre
ouvimos que “a tua fé te curou” e, pensando bem, quase nunca nos damos conta de
que esta frase não tem aí seu ponto final. Costuma ser acrescida de “e não
tornes a pecar, para que não te suceda algo pior”.
É meio
parecido com bula de remédios que diz como e para que serve aquilo, ao tempo em
que previne das reações adversas e contra-indicações.
E a maior
semelhança está exatamente no fato de buscarmos saber para que serve e
costumarmos dar pouca atenção aos riscos envolvidos. Mas, por que será que
Jesus usou tanto essa exclamação?
Seguramente,
ele estava dizendo que a cura é um processo que tem seu disparo inicial dentro
de quem quer ser ou precisa ser curado. E ele disse isso de outra forma também:
“conhecerás a verdade e esta te libertará”. Libertará do quê? Será que eu
sabendo de uma coisa estarei livre dela? Se alguém fuma e sabe dos perigos daí
advindos, simplesmente estará livre do fumo ou de seus efeitos só por conhecer
os malefícios associados? Dá para se perceber que o entendimento disso tudo não
é apenas um chupar de balinhas, mas de processar tudo o que lhe é decorrente e
consequente.
Lógico que
alguém já pode disparar: e quem está em coma? E quem não acredita? E quem não
quer?
Não tem vezes
que a cura os atinge igualmente enquanto que outros que querem e fazem por onde
atingir a cura, não parece que ela deles foge desbragadamente?
A fé é
sentimento íntimo, inato e que se desenvolve com o avanço intelecto-moral do
ser humano.
Intelecto-moral
porque se fundamenta nos sentimentos mais íntimos e profundos do ser e vai se
robustecendo à medida em que a confrontação com a razão amplia-lhe a base.
Significa dizer que essa fé não se liga necessariamente a uma crença ou
doutrina em particular e sim à maneira com que se lida com o plausível e o
impalpável, o real e o imaginável, o denso e o sutil. Assim há quem verbalize
não ter fé, porem, no modo de vida, expresse exatamente o oposto; de igual
forma ocorre o reverso.
É de se
destacar o caso da mulher hemorroíssa (Matheus, 9, 20-22) que apenas tocou a
veste de Jesus e se curou. Ele disse a ela que foi a fé que agiu, mas fica a
questão: por que será que a fé não atuou desde o momento em que se instalou em seu
coração, mas apenas quando ela Lhe tocou as vestes? Este é um caso por demais
significativo. A fé funcionou ou fez funcionar uma atração fluídica surpreendentemente
eficaz, mas, ainda aí, foi necessário um toque, um quê de detalhe adicional para
que a manifestação material se desse. Ou seja: a fé a curou sim, mas não a fé
da crença ou de uma espera inativa e sim a fé que levou-a a mover-se até a
fonte, até o “campo energético” por excelência que a curaria.
Por fim,
quando Jesus assevera que se tivermos uma fé do tamanho de um grão de mostarda,
ao tempo em que sinaliza que ainda estamos com uma fé absurdamente pequena em
nossas almas, Ele nos conclama a uma percepção mais rica e profunda desse
sentimento. A fé verdadeira pede movimento, ação, retirada de obstáculos, empenho,
esforços constantes e vitórias. É assim que a doce fé do simples crer que é e
será deverá ser substituída pela fé da ação, da perseverança, da busca, da
luta, do mergulho interior levando-nos grandiosos para o exterior.
A nossa fé
nos curará sim. Mas precisaremos ir além de comer docinhos. Precisamos nos
alimentar de vida para a Vida nos presentear com as curas reais.
Jornal
Vórtice ANO II, n.º 10, março/2010
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