Dos corpos
espirituais (A visão de André Luiz)
Podemos
agora tecer algumas considerações a respeito do problema dos corpos espirituais
na obra de André Luiz, psicografada pelo médium Chico Xavier, procurando
esclarecer alguns detalhes que parecem bastante importantes.
A partir de
seu primeiro livro, Nosso Lar, no qual relata suas primeiras experiências no
plano espiritual, André Luiz faz referência a vários corpos espirituais: duplo etérico,
corpo astral, corpo mental e corpo causal. Inicialmente, devemos lembrar que ele
utiliza o termo perispírito em sentido estrito, para significar apenas o
segundo corpo após o organismo físico, que sobreviverá a este com algumas
diferenças. Ele usa os termos corpo astral, corpo espiritual e psicossoma como
sinônimos. Para os outros corpos, utiliza vocábulos consagrados entre os
magnetizadores e espiritualistas (duplo etérico, corpo mental e corpo causal).
Ele não se refere à existência de outros corpos que correspondessem aos
denominados corpos moral, intuitivo e consciencial, isto é, os Aerossomas V, VI
e VII da classificação de Charles Lancelin.
A
divergência pode se tornar uma simples questão de palavras se encararmos o perispírito
como sendo um corpo complexo, formado, por assim dizer, de “camadas”, sintetizando
todos os corpos espirituais.
Para o dr.
Antônio J. Freire, a concepção clássica do ternário humano não implica necessariamente
a homogeneidade do perispírito. As palavras pouco importam aos espíritos,
competindo ao homem formular uma linguagem que elimine controvérsias.
Duplo
Etérico
No primeiro
volume de Doutrina e Prática do Espiritismo, Leopoldo Cirne (1870-1941) já
deduzia, das experiências de materialização, a existência de um corpo invisível
no ser encarnado, distinto do perispírito, que poderia subsistir por algum
tempo depois da morte física, mas que não permaneceria ligado ao espírito
desencarnado. Ele o denominou como corpo etéreo, duplo astral, corpo astral,
que seria responsável pela possibilidade de materialização dos espíritos.
Depois, em O Homem Colaborador de Deus, publicado após sua morte, Cirne manteve
seu ponto de vista sobre a existência de um corpo não-físico durante a vida.
Em Nos
Domínios da Mediunidade, André Luiz diferencia o perispírito (tratado por ele
também como corpo astral, corpo espiritual e psicossoma) do duplo etérico, cuja
natureza ele esclarece ser “um conjunto de eflúvios vitais que asseguram o
equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, (...) formado por emanações
neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não
conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à
desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal por ocasião da morte
renovadora”.
O duplo
etérico não é mais do que o corpo vital, também denominado de corpo ódico e
corpo ectoplásmico, exatamente o que cede o ectoplasma para a produção de efeitos
físicos. Nas ocorrências de materialização, por exemplo, ele pode se desdobrar
a partir do corpo físico, permitindo ao espírito comunicante uma sobreposição,
quando a manifestação acontece com apropriação por parte daquele, ou apenas
ceder o ectoplasma disforme, que possibilita ao espírito construir um corpo.
No primeiro
caso, o espírito materializado guarda uma certa semelhança com o médium,
proporcionando aos críticos apressados a alegação de fraude. No entanto, sua função
em relação à mediunidade não se limita a esses fenômenos, dizendo respeito a
toda espécie de fenômeno mediúnico.
Tendo
perdido o duplo etérico ou corpo vital, constituído dos fluidos vitais aos
quais Kardec se referia, ao se desligar do corpo físico pelo desencarne, o
espírito dele necessita para sua ligação com o médium, modo pelo qual se
recupera parcialmente o elemento perdido, possibilitando-lhe agir sobre a
matéria.
Quando o
médium se desdobra sem muita prática, faz com que o duplo etérico seja levado
para fora do corpo físico, aparecendo ao vidente como se fosse um duplo do
indivíduo, porém, com deformações.
Por isso,
ele não poderá ficar mais do que cinco ou dez metros longe do corpo físico, pois
a ultrapassagem desse campo causaria sua morte. Por outro lado, pode surgir ao vidente
como um fantasma, com cores diferentes do lado direito e esquerdo, às vezes,
também com a cor azul.
Nas
experiências realizadas pelo coronel Albert de Rochas com Eusápia Paladino em
estado de hipnose, a médium descreveu o surgimento de um fantasma de cor azul,
de cuja substância o espírito de John se servia durante as reuniões. O fato
confere com as explicações fornecidas pelo espírito Katie King e constantes no
relatório de Florence Marryat, que abordavam a existência de um corpo do qual
se servia, mas que lhe apresentava tamanha resistência passiva que não era
possível evitar os traços de semelhança com o médium durante as
materializações.
A vidente
Prevorst denominou esse corpo de “espírito de nervos” ou “princípio de
vitalidade nervosa”, cuja função seria permitir a ligação do espírito com o
corpo.
Uma
sonâmbula do reverendo Werner também se referiu a um “fluido nervoso” que seria
indispensável para que a alma entrasse em relação com o corpo. Durante suas experiências
de magnetização dos sensitivos, Albert de Rochas, Hector Durville, H. Baraduc e
outros verificaram que estes descreviam o desdobramento de um “fantasma ódico”
que tinha uma cor alaranjada à direita e azulada à esquerda, estando ligado ao
corpo físico por um cordão fluídico fixado na região esplênica.
Ver continuação da matéria aqui.: Deformidades na exteriorização